Absorvendo
Conhecimento.
O livro das
organizadoras Bernadete Santos Campello, Beatriz Valadares Cendón e Jeannete
Marguerite Kremer, Fontes de Informação
para Pesquisadores e Profissionais, BH, UFMG, 2000, no artigo 10, de
Bernadete Santos Campello, Traduções,
diz, p.131: “Hoje o esforço de pesquisa
em tradução automática é feito pelo Japão, considerando o interesse comercial
do país tanto na exportação de seus produtos, quanto na absorção de
conhecimentos científicos e tecnológicos gerados em outros países”, grifo
meu.
Essa tradução automática
certamente não é aquela feita com tradutores humanos, senão a outra, que advém
dos programáquinas, desse tipo que é deficiente na Internet hoje em dia.
Qualquer um pode ver a
importância de uma coisa destas para a vida dos povos, em particular para os
brasileiros. Deveríamos “colar” no Japão, de modo a imitá-lo neste particular e
até tirando nossas conclusões separadas e complementares.
Para as culturas ou
povelites/nações e para as empresas é fundamental dispor desse tradutor
automático confiável. Os de hoje são muito pobres e dão traduções sofríveis,
embora melhores que nada. Se a confiabilidade fosse subindo a 50, 60, 70, 80,
90 e até 99 %, restando os retoques dos tradutores humanos, haveria um tremendo
adiantamento, pois a autora diz que embora os falantes de mandarim e hindi
sejam 25 % da população do mundo, “menos de 1 % da literatura científica e
técnica do mundo é publicado nesses idiomas”. Cinco línguas (inglês, russo,
alemão, francês e japonês) concentram 90 % das publicações especializadas. Se
conseguíssemos cinco tradutores para o português, teríamos acesso a 90 % do que
é produzido.
Ela refere (p. 130) que
“a produtividade de um tradutor se
compara à de um copista na Idade Média: cerca de mil a seis mil palavras por
dia, dependendo da complexidade do texto”, também grifo meu.
Como uma lauda de artigo
para jornal comporta em geral 72 toques em 30 linhas, isso dá cerca de 2,1 mil
toques (contando os vazios); se cada palavra possuir em média sete letras
(incluídos os vazios), serão umas 300 palavras por página, num livro de 400
páginas chegando a 300 x 400 = 120 mil palavras. Dividindo por 1.000 ou 6.000 palavras
por dia, teríamos 120 a 20 dias, de um terço de ano a quase um mês. E há que
considerar os sábados, domingos e feriados (no Brasil mais de 10, 52 sábados e
52 domingos, no total pelo menos 114 dias, 1/3 do ano, fora férias de 30 dias,
aí já 144 dias, mais de um terço) nos quais o tradutor não quererá (muito
justamente) trabalhar. Fora os desacertos. Com muito esforço traduzirá dois a
12 livros por ano, dos milhares de títulos que são lançados.
TV, Rádio, Revista,
Jornal, Livro e Internet, a mídia é grande e em expansão acelerada. Só da
produção científica de milhares de artigos a cada mês o volume seria
intraduzível. Não admira mesmo nada que os japoneses estejam se empenhando
tanto, se querem ficar à frente no mundo. O Brasil não pode ficar atrás.
Imagine se as máquinas
de decifração automática do genoma não tivessem sido inventadas, demoraríamos
décadas para chegar aos três bilhões de pares do genoma humano, sem falar dos
três milhões de espécies existentes na Terra, segundo dizem.
Embora tal máquina mude
a situação, de modo algum irá desempregar os tradutores humanos, porquanto
aquele 1 % que irá, na melhor das hipóteses, faltar, é o toque de gênio, que as
máquinas naturalmente não possuem. É a diferença entre o prato irresistível do
mâitre e a gororoba intragável da cozinheira descuidada, é o tempero, o segredo
da alimentação.
Portanto, não haverá
oposição da categoria, se ela for inteligente e visar os interesses humanos
mais amplos, podendo ganhar tempo considerável, no cômputo geral, com as
maquinas e os tradutores do lado, para dar o retoque final, cada um sendo capaz,
sei lá, de traduzir 50 a 100 títulos por ano. Um grupo de mil tradutores
qualificados, mais o quíntuplo disso de auxiliares, seis mil pessoas para cada
um dos tipos de conhecimento (Magia, Arte, Teologia, Religião, Filosofia,
Ideologia, Ciência, Técnica e Matemática – cada um com seus particularismos),
poderiam num país traduzir toda a produção mundial, no total 13 x 6 = 78 mil
tradutores e auxiliares (o que não é difícil de conseguir nem de pagar, podendo
ser arcado pelos governos, como o do Brasil e até dos 10 principais estados, os
cinco outro tanto, os cinco seguintes um décimo disso). Absolutamente tudo poderia ser traduzido. Com contração qualitativa
pode-se conseguir com um terço disso, eu creio, 25 mil pessoas envolvidas. Um
volume grande de dinheiro, porém inteiramente suportável, como benefício maior,
estocando-se num superbanco de dados, uma mega-loja de traduções.
Os governantes não podem
senão mirar uma coisa assim e realizar. Ficar atrasado nisso é condenar a nação
ao atraso irremediável, na medida em que os novos volumes de conhecimento
produzidos permitirão aos que os detiverem dar saltos desconhecidos até agora,
deixando os retardatários cada vez mais para trás.
Vitória, quarta-feira,
10 de julho de 2002.
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