Sunday, November 03, 2013

Absorvendo Conhecimento (da série Expresso 222..., Livro 4)


Absorvendo Conhecimento.

 

                        O livro das organizadoras Bernadete Santos Campello, Beatriz Valadares Cendón e Jeannete Marguerite Kremer, Fontes de Informação para Pesquisadores e Profissionais, BH, UFMG, 2000, no artigo 10, de Bernadete Santos Campello, Traduções, diz, p.131: “Hoje o esforço de pesquisa em tradução automática é feito pelo Japão, considerando o interesse comercial do país tanto na exportação de seus produtos, quanto na absorção de conhecimentos científicos e tecnológicos gerados em outros países”, grifo meu.

                        Essa tradução automática certamente não é aquela feita com tradutores humanos, senão a outra, que advém dos programáquinas, desse tipo que é deficiente na Internet hoje em dia.

                        Qualquer um pode ver a importância de uma coisa destas para a vida dos povos, em particular para os brasileiros. Deveríamos “colar” no Japão, de modo a imitá-lo neste particular e até tirando nossas conclusões separadas e complementares.

                        Para as culturas ou povelites/nações e para as empresas é fundamental dispor desse tradutor automático confiável. Os de hoje são muito pobres e dão traduções sofríveis, embora melhores que nada. Se a confiabilidade fosse subindo a 50, 60, 70, 80, 90 e até 99 %, restando os retoques dos tradutores humanos, haveria um tremendo adiantamento, pois a autora diz que embora os falantes de mandarim e hindi sejam 25 % da população do mundo, “menos de 1 % da literatura científica e técnica do mundo é publicado nesses idiomas”. Cinco línguas (inglês, russo, alemão, francês e japonês) concentram 90 % das publicações especializadas. Se conseguíssemos cinco tradutores para o português, teríamos acesso a 90 % do que é produzido.

                        Ela refere (p. 130) que “a produtividade de um tradutor se compara à de um copista na Idade Média: cerca de mil a seis mil palavras por dia, dependendo da complexidade do texto”, também grifo meu.

                        Como uma lauda de artigo para jornal comporta em geral 72 toques em 30 linhas, isso dá cerca de 2,1 mil toques (contando os vazios); se cada palavra possuir em média sete letras (incluídos os vazios), serão umas 300 palavras por página, num livro de 400 páginas chegando a 300 x 400 = 120 mil palavras. Dividindo por 1.000 ou 6.000 palavras por dia, teríamos 120 a 20 dias, de um terço de ano a quase um mês. E há que considerar os sábados, domingos e feriados (no Brasil mais de 10, 52 sábados e 52 domingos, no total pelo menos 114 dias, 1/3 do ano, fora férias de 30 dias, aí já 144 dias, mais de um terço) nos quais o tradutor não quererá (muito justamente) trabalhar. Fora os desacertos. Com muito esforço traduzirá dois a 12 livros por ano, dos milhares de títulos que são lançados.

                        TV, Rádio, Revista, Jornal, Livro e Internet, a mídia é grande e em expansão acelerada. Só da produção científica de milhares de artigos a cada mês o volume seria intraduzível. Não admira mesmo nada que os japoneses estejam se empenhando tanto, se querem ficar à frente no mundo. O Brasil não pode ficar atrás.

                        Imagine se as máquinas de decifração automática do genoma não tivessem sido inventadas, demoraríamos décadas para chegar aos três bilhões de pares do genoma humano, sem falar dos três milhões de espécies existentes na Terra, segundo dizem.

                        Embora tal máquina mude a situação, de modo algum irá desempregar os tradutores humanos, porquanto aquele 1 % que irá, na melhor das hipóteses, faltar, é o toque de gênio, que as máquinas naturalmente não possuem. É a diferença entre o prato irresistível do mâitre e a gororoba intragável da cozinheira descuidada, é o tempero, o segredo da alimentação.

                        Portanto, não haverá oposição da categoria, se ela for inteligente e visar os interesses humanos mais amplos, podendo ganhar tempo considerável, no cômputo geral, com as maquinas e os tradutores do lado, para dar o retoque final, cada um sendo capaz, sei lá, de traduzir 50 a 100 títulos por ano. Um grupo de mil tradutores qualificados, mais o quíntuplo disso de auxiliares, seis mil pessoas para cada um dos tipos de conhecimento (Magia, Arte, Teologia, Religião, Filosofia, Ideologia, Ciência, Técnica e Matemática – cada um com seus particularismos), poderiam num país traduzir toda a produção mundial, no total 13 x 6 = 78 mil tradutores e auxiliares (o que não é difícil de conseguir nem de pagar, podendo ser arcado pelos governos, como o do Brasil e até dos 10 principais estados, os cinco outro tanto, os cinco seguintes um décimo disso). Absolutamente tudo poderia ser traduzido. Com contração qualitativa pode-se conseguir com um terço disso, eu creio, 25 mil pessoas envolvidas. Um volume grande de dinheiro, porém inteiramente suportável, como benefício maior, estocando-se num superbanco de dados, uma mega-loja de traduções.

                        Os governantes não podem senão mirar uma coisa assim e realizar. Ficar atrasado nisso é condenar a nação ao atraso irremediável, na medida em que os novos volumes de conhecimento produzidos permitirão aos que os detiverem dar saltos desconhecidos até agora, deixando os retardatários cada vez mais para trás.

                        Vitória, quarta-feira, 10 de julho de 2002.

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