Saturday, November 02, 2013

Alienação do Trabalho (da série Expresso 222..., Livro 3)


Alienação do Trabalho

 

                        No livro de Leandro Konder, O Que é Dialética, São Paulo, Abril Cultural & Brasiliense, 1985, página 30, ele diz: “‘Divisão do trabalho e propriedade privada’ – escreveu Marx – ‘são termos idênticos: um diz em relação à exploração do trabalho escravo a mesma coisa que o outro diz em relação ao produto da exploração do trabalho escravo’”.

                        “As condições criadas pela divisão do trabalho e pela propriedade privada introduziram um ‘estranhamento’ entre o trabalhador e o trabalho, na medida em que o produto do trabalho, antes mesmo de o trabalho se realizar, pertence a outra pessoa que não o trabalhador. Por isso, em lugar de realizar no seu trabalho, o ser humano se aliena nele; em lugar de reconhecer-se em suas próprias criações, o ser humano se sente ameaçado por elas; em lugar de libertar-se, acaba enrolado em novas opressões”, itálico no autor.

                        Acontece que o ser humano não pode, por natureza, abarcar toda a realidade. Vejamos as pessoas (4): indivíduos, famílias, grupos e empresas. E os ambientes (4): municípios/cidades, estados, nações e mundo. Em níveis crescentes de complexidade. E os níveis mentais (7): povo, lideranças, profissionais, pesquisadores, estadistas, santos/sábios e iluminados. Depois, temos a psicologia de cada conjunto (seis parâmetros): espaço, psicanálise (figura), psico-síntese (objetivos), economia (produção), sociologia (organização). Qual economia: agropecuária/extrativista, industrial, comercial, de serviços ou bancária)?

                        As profissões são, segundo dizem, 6,5 mil, todas diferentes, e a pessoa deve se orientar para elas.

                        Em qual nível educacional: 1º, 2º ou 3º graus, mestrado, doutorado ou pós-doutorado?

                        Em qual mundo: primeiro, segundo, terceiro ou quarto?

                        Em qual partido (são nove): conhecimento alto (Magia, Teologia, Filosofia ou Ciência), conhecimento baixo (Arte, Religião, Ideologia e Técnica) ou Matemática? Em que nível da pontescada científica (Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 ou Dialógica/p.6) ou técnica (Engenharia/X1, Medicina/X2, Psiquiatria/X3, Cibernética/X4, Astronomia/X5 ou Discursiva/X6)?

                        Com que Chave do TER (CT) [matéria, energia e informação] ou Chave do SER (CS) [memória, inteligência e controle]?

                        E quanto às tecnartes do corpo (visão: pintura, desenho, dança, poesia, prosa, fotografia, moda, etc.; paladar: comidas, bebidas, temperos, pastas, etc.; olfato: perfumaria, etc.; audição: músicas, discursos, etc.; tato: cinema, teatro, esculturação, paisagismo/jardinagem, tapeçaria, arquiengenharia, urbanismo, decoração, etc.)?

                        Em qual classe do labor: operária, intelectual, financista, militar ou burocrática? Em que sexo: macho, fêmea, pseudo-homem ou pseudomulher? Em que espaçotempo políticadministrativo: escravista, feudalista, capitalista, socialista, comunista ou anarquista? Embora nasçamos no ET capitalista, temos de escolher como vamos nos comportar.

                        Conforme escrevi em A Troca de Info-Controle (Livro 2), sobre como as crianças são muito superiores a nós em termos de rapidez e confiabilidade do aprendizado, não é fácil para ninguém aprender. Embora Marx, Engels, Lênin, Trotsky, Mao, Fidel, Che Guevara, Ho Shi Min e outros revolucionários sejam meus heróis, não posso esconder minha discordância de Marx. Durante muito tempo, não querendo me opor a nada do que eles dissessem, face ao fato de que qualquer mínima coisa deles ainda ser mais importante que qualquer grande coisa dos burgueses, não quis me pronuncia, mas a verdade é que isso está errado.

                        Todos os seres humanos são alienados, afastados de si, separados uns dos outros, arrebatados, até endoidecidos, enlouquecidos. Todos, absolutamente todos, menos 2,5 %, que têm algum equilíbrio, não muito significativo; e a coisa fica maior e pior a cada ano que passa, dada a quantidade incontrolável de informações que devemos administrar.

                        Evidente que a propriedade privada CAPITALISTA é 3/6 alienada, faltando-lhe as compreensões socialista, comunista e anarquista. É claro, é cristalino. Mas ela é 2/6, quase outros 3/6 desalienada, tendo avançado até a terceira onda. O avanço é inegável. Senão, não estaríamos chegando às portas do socialismo efetivo nos países mais avançados do primeiro mundo. NÃO EXISTE outro socialismo de primeira onda (que é o mesmo capitalismo de quarta onda, bem próximo).

                        Agora, dizer que a divisão do trabalho é alienação, é loucura.

                        Poderíamos dizer, num truísmo, que a divisão CAPITALISTA do trabalho é alienada, como todas serão, exceto no fim.

                        SEMPRE haverá divisão do trabalho, pois criança não pode fazer o mesmo trabalho de adulto, nem velho de jovem, nem homem parir como a mulher. E há o conhecimento, que reparte mesmo o trabalho; como seríamos todos superespecializados num fragmentozinho duma técnica sutilíssima da bioengenharia?

                        Então, não é verdade que propriedade privada = divisão do trabalho. Nem de longe. Não ver isso é forçar em favor do socialismo, e dificilmente poderei crer que o teremos com mentiras e subterfúgios. É a mesma coisa do abuso de certos negros que desejam subjugar a cultura não-negra com base em revanchismos e racismos às avessas. Isso não dará certo.

                        A pureza de propósitos não é burguesa, ela é condição de evolução mais rápida para toda a espécie humana. A pureza dos atos, mais ainda, tal como disse Buda, no Óctuplo Caminho.

                        Vitória, terça-feira, 28 de maio de 2002.

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