O texto de Arthur
Barrionuevo Filho, Política de Comércio
Exterior e Crescimento Industrial no Brasil, que saiu na RAE, Revista de
Administração de Empresas, abr./jun. 1997 conclui:
1)
“Para concluir, pode-se dizer que o processo de substituição de importações no
Brasil aproveitou a existência de escalas de mercado interno para prosseguir no
processo de industrialização voltado para dentro com maior sucesso do que
países pequenos”. O desejo de ‘independência nacional’ encontrou um campo
fértil nesta estratégia“.
2)
“Todos esses problemas, agravados pela crise do endividamento externo, se
tornarão patentes no decorrer dos anos 80, implicando uma necessidade de
mudanças profundas na política comercial, que começa a ocorrer em 1990”.
Porém
são falsas conclusões, porque nada no texto aponta essas passagens COMO
DEDUÇÕES LÓGICAS. A Economia não é ainda uma ciência, é uma dissertação
filosófica que quer ter foros tecnocientíficos. Não realizou o corte
epistemológico, de conhecimento, e não é matematizada, ao contrário do que em
geral pensam, porisso mesmo não poderia nunca levar à dedutividade.
Da
ausência de premissas o autor deduziu coisas válidas.
São
válidas não porque ele tenha corretamente deduzido, o que não fez, e sim porque
podemos apenas tirá-las das notícias dos jornais. Essas interpretações estão em
toda parte, e seriam teses das quais se pede justamente a demonstração. Quase
qualquer um poderia tê-las citado, sendo desnecessário discorrer em várias
páginas para tal.
Poderia
ter trilhado, como tese de dissertação, o caminho do apontamento do ciclo de
oposições entre períodos de dominância das exportações e das importações, quiçá
redefinindo a visão popular, mostrando que o Brasil não tem uma
políticadministração única, afiada de um lado só, a da defesa intransigente da
nacionalidade, como a Coréia do Sul e Japão, por exemplo, para não citar
outros, e que aqui a coisa varia entre a preservação exagerada e o
entregacionismo, a superentregação, a entregação levada ao nível de religião de
certos grupos, ou seja, a políticadministração governempresarial brasileira é
uma gilete, uma espada (pequena) de dois gumes. Ora se vai muito às exportações, em busca de
divisas, ora às importações, no ritmo do saudosismo da dependência portuguesa
da Inglaterra, como depois de 1989, com a abertura de Collor.
Ele
poderia perfeitamente ter criado um quadro (com o Excel é fácil), plotando a
função oscilante esquerda-direita, uma senóide qualquer, entre um e outro
“destino manifesto” da burguesia dependente local, o da superproteção dos
produtores internos, chamada eufemisticamente “política de substituição das
importações”, ou de industrialização interna, e a cooptação externa, quando o
país é arrebentado a partir de dentro pelos entreguistas, tipo Collor, Itamar e
FHC, a título de globalização ingênua.
Infelizmente
o autor junta dados (demais), cuja interpretação fica pendente. E fica pendente
porque não há orientação científica/técnica, não há obediência ao método
tecnocientífico, que remonta a Galileo Galilei, dito Galileu (físico e
astrônomo italiano, 1564 – 1642, 78 anos entre datas) e Francis Bacon (filósofo
inglês, 1561 – 1626, 65 anos entre datas).
Definitivamente
a Economia, como Psicologia que é, não está matematizada, não realizou o corte
matemático que a teoria do conhecimento ou epistemologia exige. Os economistas
juntam a mais reles álgebra a seus quadros infantilóides como demonstração de
nada, querendo com isso dar foros de autenticidade à sua pseudociência.
O
autor fala de coisas triviais {“o PIB (Produto Interno Bruto) per capita
quadruplicado em 30 anos”} ou aborrecidamente tolas {“nota-se ainda que a
continuidade da urbanização, que neste cenário significou piora das condições
de vida nas cidades” (por quê as pessoas continuariam vindo?)}, ou constata o
óbvio nas tabelas {“durante todo o período que vai de 1946 a 1964 uma
característica constante na política comercial foi a sobrevalorização
cambial”}. O que queremos saber é o que provocou isso, ou o que se seguiu a
isso. Faça apontamentos úteis!
A
gente quer progredir no conhecimento e não ficar dando espaço a quem só sabe
repetir o já sabido. As exposições não podem constituir colagens, trabalhos
infantis. Precisamos do velho causa-efeito. O quê, dentre os elementos disponíveis,
causou e o quê foi causado? O quê implica o quê?
Isso
é o que está exposto em Bacon.
Qual
é o elemento crucial?
Que
elementos, sendo modificados, fazem aparecer nos demais do ambiente (o conjunto
operativo da função), seletivamente e contra-seletivamente, indutiva e contra-indutivamente,
múltiplos e submúltiplos, ou seja, como
podemos prever a manifestação ambiental (nos municípios/cidades, nos
estados, nas nações e no mundo) das
modificações dos vetores pessoais (introduzidas pelos indivíduos, pelas
famílias, pelos grupos e pelas empresas)?
A
previsibilidade é quase tudo.
Queremos
adquirir domínio dos ambientes e das pessoas, queremos estar prevenidos. SE as
dissertações não fazem esses apontamentos estamos em iguais condições às de
quaisquer uns; e, SE É ASSIM, para quê ler?
Tudo
se prende aos apontamentos
úteis, conforme o título do artigo. Beleza é interessante, é
engraçadinha, mas não põe mesa, não fornece alimento duradouro – só a utilidade
faz isso. A beleza fenece, morre, daí todos preferirem em longo prazo o que dá
sustentação, a utilidade, mesmo se feia, mesmo se numa apresentação não
valorizada exteriormente.
O
autor segue seus pares, faz uma apresentação bonitinha que nada nos diz, que
nada acrescenta, é totalmente inútil, é uma perda de tempo, de papel, de
recursos que estariam mais bem aplicados de outro modo.
Vitória,
domingo, 16 de junho de 2002.
José
Augusto Gava.
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