Saturday, November 02, 2013

Apontamento Útil (da série Expresso 222..., Livro 3)


Apontamento Útil



             O texto de Arthur Barrionuevo Filho, Política de Comércio Exterior e Crescimento Industrial no Brasil, que saiu na RAE, Revista de Administração de Empresas, abr./jun. 1997 conclui:

                   1) “Para concluir, pode-se dizer que o processo de substituição de importações no Brasil aproveitou a existência de escalas de mercado interno para prosseguir no processo de industrialização voltado para dentro com maior sucesso do que países pequenos”. O desejo de ‘independência nacional’ encontrou um campo fértil nesta estratégia“.

                   2) “Todos esses problemas, agravados pela crise do endividamento externo, se tornarão patentes no decorrer dos anos 80, implicando uma necessidade de mudanças profundas na política comercial, que começa a ocorrer em 1990”.

                   Porém são falsas conclusões, porque nada no texto aponta essas passagens COMO DEDUÇÕES LÓGICAS. A Economia não é ainda uma ciência, é uma dissertação filosófica que quer ter foros tecnocientíficos. Não realizou o corte epistemológico, de conhecimento, e não é matematizada, ao contrário do que em geral pensam, porisso mesmo não poderia nunca levar à dedutividade.

                   Da ausência de premissas o autor deduziu coisas válidas.

                   São válidas não porque ele tenha corretamente deduzido, o que não fez, e sim porque podemos apenas tirá-las das notícias dos jornais. Essas interpretações estão em toda parte, e seriam teses das quais se pede justamente a demonstração. Quase qualquer um poderia tê-las citado, sendo desnecessário discorrer em várias páginas para tal.

                   Poderia ter trilhado, como tese de dissertação, o caminho do apontamento do ciclo de oposições entre períodos de dominância das exportações e das importações, quiçá redefinindo a visão popular, mostrando que o Brasil não tem uma políticadministração única, afiada de um lado só, a da defesa intransigente da nacionalidade, como a Coréia do Sul e Japão, por exemplo, para não citar outros, e que aqui a coisa varia entre a preservação exagerada e o entregacionismo, a superentregação, a entregação levada ao nível de religião de certos grupos, ou seja, a políticadministração governempresarial brasileira é uma gilete, uma espada (pequena) de dois gumes.  Ora se vai muito às exportações, em busca de divisas, ora às importações, no ritmo do saudosismo da dependência portuguesa da Inglaterra, como depois de 1989, com a abertura de Collor.

                   Ele poderia perfeitamente ter criado um quadro (com o Excel é fácil), plotando a função oscilante esquerda-direita, uma senóide qualquer, entre um e outro “destino manifesto” da burguesia dependente local, o da superproteção dos produtores internos, chamada eufemisticamente “política de substituição das importações”, ou de industrialização interna, e a cooptação externa, quando o país é arrebentado a partir de dentro pelos entreguistas, tipo Collor, Itamar e FHC, a título de globalização ingênua.

                   Infelizmente o autor junta dados (demais), cuja interpretação fica pendente. E fica pendente porque não há orientação científica/técnica, não há obediência ao método tecnocientífico, que remonta a Galileo Galilei, dito Galileu (físico e astrônomo italiano, 1564 – 1642, 78 anos entre datas) e Francis Bacon (filósofo inglês, 1561 – 1626, 65 anos entre datas).

                   Definitivamente a Economia, como Psicologia que é, não está matematizada, não realizou o corte matemático que a teoria do conhecimento ou epistemologia exige. Os economistas juntam a mais reles álgebra a seus quadros infantilóides como demonstração de nada, querendo com isso dar foros de autenticidade à sua pseudociência.

                   O autor fala de coisas triviais {“o PIB (Produto Interno Bruto) per capita quadruplicado em 30 anos”} ou aborrecidamente tolas {“nota-se ainda que a continuidade da urbanização, que neste cenário significou piora das condições de vida nas cidades” (por quê as pessoas continuariam vindo?)}, ou constata o óbvio nas tabelas {“durante todo o período que vai de 1946 a 1964 uma característica constante na política comercial foi a sobrevalorização cambial”}. O que queremos saber é o que provocou isso, ou o que se seguiu a isso. Faça apontamentos úteis!

                   A gente quer progredir no conhecimento e não ficar dando espaço a quem só sabe repetir o já sabido. As exposições não podem constituir colagens, trabalhos infantis. Precisamos do velho causa-efeito. O quê, dentre os elementos disponíveis, causou e o quê foi causado? O quê implica o quê?

                   Isso é o que está exposto em Bacon.

                   Qual é o elemento crucial?

                   Que elementos, sendo modificados, fazem aparecer nos demais do ambiente (o conjunto operativo da função), seletivamente e contra-seletivamente, indutiva e contra-indutivamente, múltiplos e submúltiplos, ou seja, como podemos prever a manifestação ambiental (nos municípios/cidades, nos estados, nas nações e no mundo) das modificações dos vetores pessoais (introduzidas pelos indivíduos, pelas famílias, pelos grupos e pelas empresas)?

                   A previsibilidade é quase tudo.

                   Queremos adquirir domínio dos ambientes e das pessoas, queremos estar prevenidos. SE as dissertações não fazem esses apontamentos estamos em iguais condições às de quaisquer uns; e, SE É ASSIM, para quê ler?

                   Tudo se prende aos apontamentos úteis, conforme o título do artigo. Beleza é interessante, é engraçadinha, mas não põe mesa, não fornece alimento duradouro – só a utilidade faz isso. A beleza fenece, morre, daí todos preferirem em longo prazo o que dá sustentação, a utilidade, mesmo se feia, mesmo se numa apresentação não valorizada exteriormente.

                   O autor segue seus pares, faz uma apresentação bonitinha que nada nos diz, que nada acrescenta, é totalmente inútil, é uma perda de tempo, de papel, de recursos que estariam mais bem aplicados de outro modo.

                   Vitória, domingo, 16 de junho de 2002.

                   José Augusto Gava.

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