Thursday, November 28, 2013

Andando no Fundo do Oceano (da série Cometários)


Andando no Fundo do Oceano

 

No volume Som e Audição (na Biblioteca Científica Life, Time, original de 1965 e 1970), Rio de Janeiro, José Olympio, 1980, de S. S. Stevens e Fred Warshorfsky, os autores dizem na página 10: “Vivemos bem no fundo de um oceano de ar invisível”.

Isso não está certo, é licença poética.

Águas formam oceanos, ar forma atmosfera.

Os oceanos podem ser vários (com mares), enquanto a atmosfera é uma só em todos os lugares. Dizer “oceano de ar invisível” é impróprio, mormente para técnicos e cientistas. Se dissermos coisas assim podemos não somente levar as pessoas a erros como também induzir a liberdade poética, como a do título.

Enquanto no fundo da atmosfera a pressão é por definição de uma atmosfera, no fundo do oceano a pressão seria enormemente maior.

Como dizia a Clarice Lispector com outras palavras: se não tomarmos cuidado com a linguagem podemos acreditar que estamos sentados na mesa (em cima dela) e não à mesa (próximos dela, em cadeira ou banco ou banqueta ou o que for).

Liberdade é bom, mas liberdade que induz a erros é ruim, é liberalismo, doença da superafirmação da liberdade.

Seria bem melhor dizer: “É como se vivêssemos bem no fundo de um oceano de ar invisível”, explicando depois a realidade.

Tecnocientistas não têm de apurar somente a tecnociência, têm de aperfeiçoar igualmente o linguajar.

Vitória, quarta-feira, 22 de setembro de 2010.

 

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