Humanização
O que é a humaniz/ação,
o ato permanente de humanizar?
A Chave do SER (CS) do
modelo é composta de memória, inteligência e controle, três motores ou
operadores independentes. Memória sem inteligência seria como uma biblioteca
sem quem a interpretasse (a inteligência RECRIA os livros constantemente pela
leitura). Inteligência sem memória seria como a transformação agindo sobre um
vazio de elementos relacionais. E as duas sem controle constituiriam um jorro
contínuo de junções de elementos, em relações diversas, sem qualquer
habilitação dos elementos, sem construtividade (a propriedade do que é
construível, que se pode construir).
No livro Dinossauros! (14 contos de FC editados
por J. Dann e G. Dozois), São Paulo, Aleph, 1993, Coleção Zenith, vol. 6,
primeiro conto, Arma para Dinossauros,
do extraordinário L. Sprague de Camp, no original de 1956 Gun for Dinossaur, p.
13 e ss., na página 22 ele diz: “As pessoas pensam algumas vezes que, porque os
dinossauros são tão estúpidos, seus sentidos devem ser lentos também. Mas não é
assim. Alguns, como os saurópodes, são bem ruins de sentidos, mas a maioria tem
um bom olfato, boa visão e uma audição razoável. Sua fraqueza é que não tendo mentes, eles não têm memória. Então,
fora de vista, fora da mente”, grifo e negrito meus.
Veja a seqüência de
ampliação da memórinteligência humana no crescimento das pessoas
(crescimento dos indivíduos, crescimento das famílias, crescimento dos grupos,
crescimento das empresas) e ambientes (crescimento dos municípios/cidades,
crescimento dos estados, crescimento das nações, crescimento do mundo).
Isso não é apenas desenvolvimento da
memória dos indivíduos (pelo número maior deles), ampliação da inteligência dos
indivíduos (idem) e pela ampliação do controle, a ponte entre memória e
inteligência.Os indivíduos crescem quantitativamente, de crianças a adultos, e
qualitativamente, pelo melhor uso dos recursos, ou seja, das potências.
O crescimento vem desde a
Física/Química a Biologia/p.2 até a Psicologia/p.3, e irá além, até a
Informática/p.4, depois a Cosmologia/p.5 e a Dialógica/p.6. A memória dos
reinos R.1, dos fungos, R.2, das plantas, R.3, dos animais, e R.4, dos seres
humanos vêm progredindo continuamente na Psicologia.
Carl Sagan trata disso em seu livro,
Os Dragões do Éden, Rio de Janeiro,
Francisco Alves, 1980, capítulo II, Genes
e Cérebros, especialmente figura da página 13, que correlaciona a época do
aparecimento da informação, em potências de 10, 10n anos, a partir
de 106 ou um milhão de anos, e o número de bits do conteúdo de informações,
a partir de 105, também em potências, a partir de 100 mil bits.
A curva de informação genética
(nos pares de nucleotídeos de ADN por célula haplóide, informação contida nos
replicadores, em particular o ADRN) começa com alta eficiência nos vírus há
cinco bilhões de anos e chega ao limite no ser humano em cinco milhões de anos.
A curva
de informação cerebral (informação acumulável no cérebro) principia com
alta eficiência nos anfíbios há uns 200 ou 300 milhões de anos e se esgota no
ser humano também há uns cinco milhões de anos. Então se abre a curva
de informação cultural extra-somática humana, há apenas 50 mil anos, no
homo sapiens sapiens, que não chegou ao fim ainda.
Veja que o limite da primeira curva
se encontrou com o princípio da segunda. Não havia mais potencial no ADRN, que
já tinha atingido a fronteira de utilidade em dois metros de comprimento enrolados
no núcleo da célula, contendo mais de três bilhões de pares de bases, que, além
disso, levaria a erros de montagem.
Passou-se à estocagem cerebral. O
HSS não existia ainda, eram os nossos parentes hominídeos. Infelizmente eles
não deram o salto qualitativo rumo à formação das redes superiores de relações,
as pessoais e as ambientais ainda em crescimento. Não iniciaram a formação de
depósitos fora do corpomente, extrapsicossomático, em bibliotecas, fitotecas,
museus e o resto. A própria posição dos objetos constitui memória ou espaço de
referência.
A acumulação cerebral começa abaixo
da informação genética em capacidade e só se torna mais eficaz lá por 100
milhões de anos atrás, com os répteis, de que as galinhas e as aves são os
descendentes. A acumulação extrapsicossomática também começou abaixo da
acumulação cerebral e só muito adiante, talvez em 3,5 mil antes de Cristo
ultrapassou a outra. Nessa data foi inventada a escrita, o instrumento de
registro da memória exterior.
No caminho entre Vitória e o lugar
onde trabalho, Posto Fiscal Amarílio Lunz, em Pedro Canário, divisa com a
Bahia, a quase 300 km daqui, indo de carona na condução que nos leva, com um
caderninho posso anotar de 40 a 80 idéias. Antes eu também pensava, mas como
não anotava só conseguia me lembrar de cinco ou seis, e mesmo assim se ao
chegar as anotasse imediatamente. Caso contrário as perderia também.
Isso para não falar de guardar os
pensamentos por anos e até milênios, como os textos mais antigos.
Veja que fora de nós está crescendo
sempre uma Chave do SER de fato MUITO MAIOR incomparavelmente maior que a do
indivíduo isolado. Com isso podemos lidar também melhor com a Chave do TER (CT)
{matéria, energia e informação}, com o princípio da acumulação, em especial
socioeconômica, em geral psicológica: acumulação
psicanalítica (relações das figuras), acumulação
psico-sintética (relações dos objetivos), acumulação econômica (relações dos produtos), acumulação sociológica (relações das organizações), acumulação geográfica (relações
espaciais) e acumulação histórica
(relações temporais). Só para dar idéia da acumulação econômica, guardei um
pequeno cilindro que vem dentro do vidro de vitaminas, com número de patente 4.093.105,
da Sud-Chemie. Repare que cada produto é um funil que se potencializa no
encontro com todos os outros, gerando novas relações pela inteligência (que
constrói as novas memórias, enquanto as memórias são as velhas inteligências),
portanto algo da ordem de 24.093.105, em tese, pois na realidade não
há quem possa operar algo tão grande assim (e nem todos os produtos são
interpenetráveis).
Sem a língua como VETOR DE
ACUMULAÇÃO estaríamos literalmente perdidos.
Podemos ver que o principal FATOR DE
HUMANIZAÇÃO não é o ADRN, nem a acumulação cerebral, nem sequer a existência
pura do info-controle, IC, da informação/controle (ou comunicação) exterior, e
sim a competência lingüística, quer dizer, o rendimento da língua como
definidor do campartícula pessoambiental (digamos, indivíduo circulando no
estado), como orientador da políticadministração de transferência de
info-controle da materenergia pela memórinteligência, quer dizer, da
distribuição do TER produzido pelo SER organizado.
Em outras palavras, como é que a
língua foi construída, a partir das emoções e das razões geo-históricas
produtiorganizativas ou socioeconômicas? A mesma língua, operando em dois países
de pensimaginações diferentes como EUA e Grã-Bretanha pode proporcionar
acumulações diferentes também, tanto em ritmo quanto em qualidade, de processobjetos
por unidade de tempo por produtorganizador. Em outros termos, rendimento
psicológico. E devemos perguntar pelos sentidos
externos (órgãos da visão, da audição, do olfato, do paladar, do tato) e
pelos interpretadores externos, pelas
suas eficácias ou eficiências. Quanta atenção é dada aos operadores de transferência, ou meios (no geral, mídia)
pessoais e extrapessoais? Quanto cuidado incide sobre os meios? Se uma criança,
como já notaram, não tem óculos para corrigir sua visão defeituosa seu
rendimento escolar decresce.
Há competição pela sobrevivência, há
luta pela sobrevivência da humanização mais apta, isto é, pelo vetor humanizante de maior
potencial, quer dizer, que dá mais futuro ou promessa geo-histórica.
Uma espécie de evolução darwiniana psicológica, com saltos revolucionários
correspondendo ao Escravismo, Feudalismo, Capitalismo (estamos na terceira
onda), Socialismo, Comunismo e Anarquismo, cada um com quatro ondas, a quarta
do anterior sendo a primeira do posterior. Cada estágio políticadministrativo
desses corresponde a um armazém psicossomático cada vez mais dilatado.
Nós nos vemos como indivíduos, sem
sequer suspeitarmos que somos uma dependência agora longínqua do mundo. E é
essa distância imponderável que causa tanta dor nas pessoas, cada vez mais
enfraquecidas diante do coletivo. A última resistência, aliás, foi a da
apresentação das empresas ditas multinacionais ou transnacionais, tidas como
competidoras dos coletivos ou ambientes, nos cenários extranacionais, pensando
que tornariam os ambientes dispensáveis. Que tolice!
Vitória, quinta-feira, 30 de maio de
2002.
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