Multiplicação do
Ensino Superior
No livro dos
organizadores Bolívar Lamounier e Rubens Figueiredo, A Era FHC (um balanço), São Paulo, Cultura, 2002, no artigo 15, Educação, de Nely Caixeta, p. 537 e
ss., na tabela 10, p. 558, ela nos mostra que o número de matriculados no
ensino superior ao começar o primeiro governo FHC era, 1994, de 1.661.034
indivíduos, ao passo que em 2000 chegou a 2.693.098, um aumento de 62 %. Em
particular as matrículas nas escolas privadas saltaram de 970.584 para
1.806.072, um aumento de 86 % no mesmo período, enquanto o aumento nas escolas
públicas foi de 690.450 para 887.026, de 29 %.
A continuar crescendo 60
% a cada seis anos, uns 8 % ao ano, em 30 anos já teremos 26 milhões de
estudantes. É claro que a coisa não é linear assim, mas a carência, a vontade
de obter um diploma de curso superior, de ter acesso a conhecimento mais
elevado é tão grande no Brasil (tanto dos adultos, mais velhos e mais moços,
quanto das crianças e adolescentes) que é possível que a coisa se dê, até superando
esta marca. Então, a média sendo de cerca de três com cerca de 26, 29/2 = 15
milhões de estudantes universitários a cada ano, aproximadamente. Como leva em
média 5 anos para se formar uma leva, 30/5 = 6, vezes 15 = 90 milhões de
pessoas formadas. Nesse ínterim, a uma taxa média (agora é de perto de 2 %, mas
diminuirá) de crescimento populacional de 1,5 % ao ano, o Brasil terá saltado
de 170 em 2000 para 270 milhões em 2030, digamos. Só nesse período 1/3 dos
brasileiros teria passado pelas escolas superiores. No Canadá já têm curso
superior desde alguns anos, um em cada dois indivíduos (sem descontar as
crianças, o que quer dizer que quase todos os adultos são formados).
Veja que as estatísticas
de quando a autora escreveu diziam que de cada “100 brasileiros na faixa de 20
a 24 anos, apenas 12 estão na universidade, contra 20 no Chile, 30 no Uruguai e
40 na Argentina”, p. 539.
O Brasil encontra-se,
portanto, muito atrasado.
No ES as faculdades
cresceram de menos de 20 para mais de 80 em poucos anos. Algumas pessoas viram
isso com alarme, como se estivesse havendo uma banalização. Contudo o ENEN,
Exame Nacional do Ensino Médio, e o Provão, para o curso superior, estão
avaliando as escolas e os alunos, o que é muito positivo.
Entretanto, algumas
pessoas seguem assustadas, à la Darcy Ribeiro, que desejava um ensino superior
elitista. No meu modo de pensar deve ser vulgarizado ao máximo, com aqueles 30
milhões de estudantes a cada ano no ensino superior. Claro, a Curva de Gauss
nos diz que 2,5 % serão sempre ruins, por mais que se injete dinheiro; 47,5 %
penderão para esse lado. Ao contrário, 47,5 % penderão para serem melhores e
2,5 % serão excelentes. Há espaçotempo para todos. Queremos aqueles 2,5 %
excepcionais, mais os 47,5 % bons. Os demais contentarão as pessoas e
proporcionarão leves tinturas, pelo menos o saber como chegar lá, como
continuar adquirindo conhecimento – fornecerão os instrumentos para a busca, se
for o desejo da pessoa. De qualquer modo elevarão o nível geral da coletividade.
Então, por quê temer?
As faculdades
particulares, claro, estão indo a busca de dinheiro, de fortunas. É bem
evidente a comercialização. Pouco importa. O que interessa mesmo é que as
pessoas poderão ler livros, extrair maior quantidade de informações da mídia,
selecioná-las melhor para seus propósitos. E MUITO MAIS gente irá para o
mestrado, o doutorado e o pós-doutorado. É isso que vale mesmo. Esse é o grande
ganho, a pesquisa teórica & o desenvolvimento prático.
Que o ensino superior
seja multiplicado indefinidamente. Que diminuam os anos de formação,
gravando-se isso nos diplomas. Que sejam instalados mais cursos de mestrado no
sentido amplo (latu sensu), o mestrado de seis meses e trabalho acadêmico, e no
sentido estrito (strictu sensu), o verdadeiro mestrado de dois anos e tese.
No ES não devem existir
apenas 80, mas 300, 500, 800 faculdades, para todas as cidades, 50 % ou mais na
Grande Vitória, onde são cinco as cidades, e o restante no interior, onde estão
65 outras ou mais. Se contarmos as 10 maiores cidades, 70 % dos cursos. Se em
mais 15 anos saltarem a 300, 210 nas 10 maiores, média de 30 em cada, já será
um bom começo.
Vitória, terça-feira, 16
de julho de 2002.
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