Sunday, November 03, 2013

Neutralidade (da série Expresso 222..., Livro 4)


Neutralidade

 

                        Durante a Segunda Guerra Mundial Portugal (e vários outros países) manteve (mantiveram) neutralidade. O lado bom é que eles se mantiveram eqüidistantes de ambas as formas de agressão e o lado ruim é que não quiseram se aventurar e ficaram em cima do muro – qualquer dos lados que tivesse vencido teria recebido seus aplausos e sua adesão.

                        Esta é a posição dos covardes.

                        Devemos desconfiar dos dois modos de fazer a guerra.

                        Entretanto, há ligeiras diferenças, porque os nazistas e os fascistas estavam matando pessoas não em razão de ofensas provadas e sim por meras desconfianças mentais, como em relação aos judeus e a todos os desfavorecidos por eles.

                        Quero o acordo entre as esquerdas e as direitas, entre os povos e as elites, entre os pobres e os ricos e outras oposições complementares, porém em caso de guerra ficarei com as esquerdas, os povos, os pobres. É preciso optar, como disse Jesus: se você não é quente nem frio, se é morno, se é meio, será cuspido. O medo de optar é pior que a opção em si. É preciso saber distinguir entre o bem e o mal, entre o que traz dificuldade agora e prosperidade depois, versus o que é fácil, falso, frágil, entre a verdade daqueles e as mentiras destes.

                        Sendo assim, Portugal errou.

                        Aliás, errou muitas vezes, quando expulsou os judeus, quando expulsou os jesuítas, quando instalou primeiro que todos a Inquisição. Acertou outras tantas vezes, contudo ficam os erros. Sequer se juntou à Grã-Bretanha, parceira desde sempre, desde os tempos em que Portugal contratava mercenários ingleses.

                        Mesmo contando a sabedoria de não se filiar a nenhum dos modos de ofender, ainda assim é preferível estar do lado dos que sofrem a estar junto daqueles que batem. Assim fez Jesus quando deu a outra face, em vez de revidar. A vitória dos maus é a coisa mais provisória que há. E estar, mesmo que apenas perspectivamente, ao lado deles é o cúmulo da estupidez.

                        Vitória, domingo, 07 de julho de 2002.

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