Onde
Mora o Perigo
Do bordão que se tornou
popular: “é aí que mora o perigo”, ou “onde mora o perigo?” – quer dizer, no
detalhe, no que é em geral desprezado.
Por exemplo, tomemos a
questão das pressões, das medidas de pressão do bombeamento sanguíneo, entre as
sistólicas (relativas ao período de contração do coração) e as diastólicas
(movimento de dilatação do coração e das artérias). Fiquei sabendo que o maior
problema não é estar, por exemplo, em 180/120, mas sim de estar, digamos
150/130, ou mais, quer dizer, o que importa mesmo é a diferença entre a
superior e a inferior, ou vice-versa.
E assim é para tantos
conhecimentos. O povo não sabe dos detalhes, não são dadas informações para
evitar aquela porçãozinha que faz a diferença entre ter filhos e ser
considerado um pervertido, ser um sodomita.
Qual é a razão perversa
de as elites não se dedicarem verdadeiramente aos seus povos respectivos? Não é
uma coisa daqui, apenas, é geral, é como o pareamento entre homens e mulheres
em todos os conjuntos do planeta (famílias, grupos, empresas,
municípios/cidades, estados, nações e mundo). Por que esses detalhes não são
comunicados e, principalmente, não o são em linguagem popular?
É isso que assombra.
Como dizem, o amor se
mostra nos detalhes, naquele filigrana, na ourivesaria, no acabamento. Senão
fica sendo só obrigação, mau-humor contido por regras de convivência e
obrigações escritas de trabalho.
A pergunta consistente é
esta: por quê as elites são incompetentes para amar? Que é que dentro delas ruiu
a ponto de só terem restado os escombros do que teria sido uma bela construção?
Que desleixo civilizatório foi esse que no lugar de um lindíssimo edifício fez
aparecer o rococó da dúvida?
E é justamente nisso que
mora o perigo, vez em quando transformado em revolução, insurgência, rebelião,
revolta, sublevação, levantamento, rebeldia, levante, com o conseqüente
morticínio geral. Tal incapacidade de prestar atenção aos detalhes naturalmente
rende muitas teses de mestrado e doutorado.
É preciso investigar
detalhadamente, sistematicamente, os pontos onde a falta de atenção às minúcias
causa danos e que tipos de estragos, reais ou potenciais (os que não se
expressaram ainda).
Só assim a civilização
brasileira dará saltos.
Tudo começará por
oferecer informações minuciosas ao nível e ao gosto popular, das massas, da
chamada “gente miúda”, da “arraia miúda”, do “Zé povão” ou “Zé povinho”, todas
essas formas depreciativas de chamar a base da existência humana. Só assim o
povelite/nação brasileira terá grandeza à altura do mundo e este se dobrará
verdadeiramente a um valor novo e excelso.
Vitória, sexta-feira, 26
de julho de 2002.
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