Sunday, November 03, 2013

Produção de Matemáticos e dos Filósofos (da série Expresso 222..., Livro 4)


Produção dos Matemáticos e dos Filósofos

 

                        Ouvi isso de um professor de filosofia na UFES logo que entrei no curso em 1989: que físicos só produzem antes dos 30 e filósofos só depois dos 60. Que estupidez tão bacana e sincera!

                        Veja o que disse o matemático Alfred Adler (procurei nas eletrônicas Barsa, Houaiss, Encarta em português, Encarta em inglês, Digital, Hispânica e Britannica, e na Koogan/Houaiss de papel, nenhuma fala de Alfred Adler matemático, só psiquiatra austríaco, 1870 – 1937, 67 anos entre datas), segundo o livro de Simon Singh, O Último Teorema de Fermat (A história do enigma que confundiu as maiores mentes do mundo durante 358 anos), 8ª. Edição, Rio de Janeiro, Record, 2001, p. 24: “A vida de um matemático é muito curta. Seu trabalho raramente melhora depois da idade de vinte ou trinta. Se ele não conseguiu muita coisa até essa idade, não vai conseguir mais nada”.

                        E G. H. Hardy (é incrível!, mas os matemáticos não constam das enciclopédias), segundo o Singh, p. 24 também: “Nenhum matemático jamais deve se esquecer de que a matemática, mais do que qualquer outra ciência ou arte, é um jogo para jovens. Para citar um exemplo simples, a idade média de eleição para a Sociedade Real é mais baixa na matemática”, e depois, p. 25: “Eu não conheço nenhum avanço importante da matemática que tenha sido realizado por um homem de mais de cinqüenta anos”.

                        Devemos analisar essas coisas.

                        Primeiro, a Matemática não é uma ciência, é o centro de todos os conhecimentos. Segundo, fazê-la exige audácia, o que os que vão envelhecendo vão perdendo – MAS NEM TODOS. O modelo-porta diz que 2,5 % das pessoas nunca perdem o atrevimento, o arrojo, a determinação, o afoitamento, a coragem de projetar-se. Terceiro, os jovens têm mais tempo, não constituíram família, não têm de ficar dando atenção a um milhar de coisas ao mesmo tempo (às contas a pagar, às reclamações da ou do cônjuge, aos filhos, aos amigos, à carreira, etc.). Quarto, os que envelhecem têm mais obrigações acadêmicas. Quinto, os jovens não têm de ficar lendo uma infinidade de artigos para atualizar-se, porque pouco se espera deles. Sexto, os que estão envelhecendo devem expandir suas próprias revoluções, quer dizer, dar propaganda aos seus feitos, em proveito próprio e da coletividade. Sétimo, os laços com mestres, doutores e pós-doutores dos jovens são muito menores, eles devem responder a muito menos cartas e indagações. E assim por diante, indefinidamente.

                        Quanto aos critérios da Sociedade Real, pode ser que ela espere produção espantosa, e não julgue espantoso o que os velhos mestres fazem, em termos de estabelecer segurança para os que vêm atrás. Além disso, quase ninguém espera até mais tarde para promover revoluções, PORQUE a vida humana é tão curta – podemos morrer aos 90, 80, 70, 60, 50, 40, 30, 20, 10, 0 + ε, e até no útero, porém o mais certo é os velhos morrerem antes. As pessoas fazem logo, com medo de não poderem fazer mais tarde, no que estão muito certas.

                        Quanto aos físicos e outros pesquisadores, a questão é a mesma acima. Já para os filósofos é o contrário, porque Filosofia depende de muita memória do que já foi feito e de uma quantidade incrível de pensamento constante, persistente e determinado, apurado, cuidadoso. A pessoa deve varrer todo o conhecimento humano, para cada item de pensamento, para ver sua adequação, pois a Filosofia é globalizante, age sobre o todo e não sobre as partes.

                        Contudo, nada impede um jovem de ter bons pensamentos e em alguns anos, logo depois dos 18, formular coisas de grande profundidade. Obviamente 20, 30 ou 40 anos de pensamento firme e devotado vão fazer alguma diferença.

                        De forma que isso é pura bobagem, enquanto conceito, para além da forma, dos casuísmos, dos eventos isolados que permitem induções espúrias. Aposto que ninguém fez uma investigação completa das produções, do significado delas no meio e fora dele, das idades que as pessoas tinham, para todas as vidas de pesquisadores, de magos, de teólogos, de filósofos, de cientistas, de matemáticos, de artistas, de religiosos, de ideólogos e de técnicos. Isso renderá muitas teses de mestrado e doutorado.

                        É bobagem isso que Adler e Hardy disseram.

                        Tanto matemáticos quanto filósofos podem produzir antes dos 30 e depois dos 60. Podem fazê-lo durante toda a vida. Por acaso, se houvesse vida num planeta com revolução que durasse 10 anos da Terra e com 6 revoluções os seres de lá tivessem 60 anos nossos, estariam impedidos de produzir filosofia? Ora, eles estariam produzindo antes dos 30 anos deles, não é? E isso com apenas 6 anos! Que precocidade! Ou outro planeta cuja revolução fosse 1/10 da nossa e com 20 anos nossos já tivessem 200 anos deles, já não fariam boa matemática?

                        Então a coisa não se prende à quantidade de revoluções.

                        Agora, vamos pensar em seres que amadurecessem muito rápido, ou muito tardiamente, mesmo quando seus anos fossem iguais aos nossos. Ou outros cujo pensamento fosse coletivo e não individual, como é o nosso.

                        Enfim, essas afirmações não são lógicas nem dialéticas, porisso não travam diálogo com o mundo. São falsas. Também não se baseiam em pesquisas, são gratuitas, meras opiniões pessoais, daqueles indivíduos e de suas sociedades.

                        Tenho para mim que os velhos deveriam ser estimulados a estudar matemática e que os jovens deveriam ser instigados a pensar diuturnamente. O mundo seria muito mais feliz, em ambas as condições. Ou se os jovens aprendessem a amar a matemática, em vez de temê-la e odiá-la, ou se os velhos se dedicassem ferrenhamente a pensar, dando-nos mais de sua sabedoria.

                        Esse tipo de afirmação de Hardy, Adler e daquele professor da UFES não prestam nenhum serviço ao mundo.

                        Vitória, domingo, 07 de julho de 2002.

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