Produção
dos Matemáticos e dos Filósofos
Ouvi isso de um
professor de filosofia na UFES logo que entrei no curso em 1989: que físicos só
produzem antes dos 30 e filósofos só depois dos 60. Que estupidez tão bacana e
sincera!
Veja o que disse o
matemático Alfred Adler (procurei nas eletrônicas Barsa, Houaiss, Encarta em
português, Encarta em inglês, Digital, Hispânica e Britannica, e na
Koogan/Houaiss de papel, nenhuma fala de Alfred Adler matemático, só psiquiatra
austríaco, 1870 – 1937, 67 anos entre datas), segundo o livro de Simon Singh, O Último Teorema de Fermat (A história
do enigma que confundiu as maiores mentes do mundo durante 358 anos), 8ª.
Edição, Rio de Janeiro, Record, 2001, p. 24: “A vida de um matemático é muito curta. Seu trabalho raramente melhora
depois da idade de vinte ou trinta. Se ele não conseguiu muita coisa até essa
idade, não vai conseguir mais nada”.
E G. H. Hardy (é
incrível!, mas os matemáticos não constam das enciclopédias), segundo o Singh,
p. 24 também: “Nenhum matemático jamais
deve se esquecer de que a matemática, mais do que qualquer outra ciência ou
arte, é um jogo para jovens. Para citar um exemplo simples, a idade média de
eleição para a Sociedade Real é mais baixa na matemática”, e depois, p. 25:
“Eu não conheço nenhum avanço importante
da matemática que tenha sido realizado por um homem de mais de cinqüenta anos”.
Devemos analisar essas
coisas.
Primeiro, a Matemática
não é uma ciência, é o centro de todos os conhecimentos. Segundo, fazê-la exige
audácia, o que os que vão envelhecendo vão perdendo – MAS NEM TODOS. O
modelo-porta diz que 2,5 % das pessoas nunca perdem o atrevimento, o arrojo, a
determinação, o afoitamento, a coragem de projetar-se. Terceiro, os jovens têm
mais tempo, não constituíram família, não têm de ficar dando atenção a um milhar
de coisas ao mesmo tempo (às contas a pagar, às reclamações da ou do cônjuge,
aos filhos, aos amigos, à carreira, etc.). Quarto, os que envelhecem têm mais
obrigações acadêmicas. Quinto, os jovens não têm de ficar lendo uma infinidade
de artigos para atualizar-se, porque pouco se espera deles. Sexto, os que estão
envelhecendo devem expandir suas próprias revoluções, quer dizer, dar
propaganda aos seus feitos, em proveito próprio e da coletividade. Sétimo, os
laços com mestres, doutores e pós-doutores dos jovens são muito menores, eles
devem responder a muito menos cartas e indagações. E assim por diante,
indefinidamente.
Quanto aos critérios da
Sociedade Real, pode ser que ela espere produção espantosa, e não julgue espantoso
o que os velhos mestres fazem, em termos de estabelecer segurança para os que
vêm atrás. Além disso, quase ninguém espera até mais tarde para promover
revoluções, PORQUE a vida humana é tão curta – podemos morrer aos 90, 80, 70,
60, 50, 40, 30, 20, 10, 0 + ε, e até no útero, porém o mais certo é os velhos
morrerem antes. As pessoas fazem logo, com medo de não poderem fazer mais
tarde, no que estão muito certas.
Quanto aos físicos e
outros pesquisadores, a questão é a mesma acima. Já para os filósofos é o contrário,
porque Filosofia depende de muita memória do que já foi feito e de uma
quantidade incrível de pensamento constante, persistente e determinado,
apurado, cuidadoso. A pessoa deve varrer todo o conhecimento humano, para cada
item de pensamento, para ver sua adequação, pois a Filosofia é globalizante,
age sobre o todo e não sobre as partes.
Contudo, nada impede um
jovem de ter bons pensamentos e em alguns anos, logo depois dos 18, formular
coisas de grande profundidade. Obviamente 20, 30 ou 40 anos de pensamento firme
e devotado vão fazer alguma diferença.
De forma que isso é pura
bobagem, enquanto conceito, para além da forma, dos casuísmos, dos eventos
isolados que permitem induções espúrias. Aposto que ninguém fez uma
investigação completa das produções, do significado delas no meio e fora dele, das
idades que as pessoas tinham, para todas as vidas de pesquisadores, de magos,
de teólogos, de filósofos, de cientistas, de matemáticos, de artistas, de
religiosos, de ideólogos e de técnicos. Isso renderá muitas teses de mestrado e
doutorado.
É bobagem isso que Adler
e Hardy disseram.
Tanto matemáticos quanto
filósofos podem produzir antes dos 30 e depois dos 60. Podem fazê-lo durante
toda a vida. Por acaso, se houvesse vida num planeta com revolução que durasse
10 anos da Terra e com 6 revoluções os seres de lá tivessem 60 anos nossos,
estariam impedidos de produzir filosofia? Ora, eles estariam produzindo antes
dos 30 anos deles, não é? E isso com apenas 6 anos! Que precocidade! Ou outro
planeta cuja revolução fosse 1/10 da nossa e com 20 anos nossos já tivessem 200
anos deles, já não fariam boa matemática?
Então a coisa não se
prende à quantidade de revoluções.
Agora, vamos pensar em
seres que amadurecessem muito rápido, ou muito tardiamente, mesmo quando seus
anos fossem iguais aos nossos. Ou outros cujo pensamento fosse coletivo e não
individual, como é o nosso.
Enfim, essas afirmações
não são lógicas nem dialéticas, porisso não travam diálogo com o mundo. São
falsas. Também não se baseiam em pesquisas, são gratuitas, meras opiniões
pessoais, daqueles indivíduos e de suas sociedades.
Tenho para mim que os
velhos deveriam ser estimulados a estudar matemática e que os jovens deveriam
ser instigados a pensar diuturnamente. O mundo seria muito mais feliz, em ambas
as condições. Ou se os jovens aprendessem a amar a matemática, em vez de
temê-la e odiá-la, ou se os velhos se dedicassem ferrenhamente a pensar,
dando-nos mais de sua sabedoria.
Esse tipo de afirmação
de Hardy, Adler e daquele professor da UFES não prestam nenhum serviço ao
mundo.
Vitória, domingo, 07 de
julho de 2002.
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