Sunday, November 03, 2013

Suspeitando da Autoridade (da série Expresso 222..., Livro 4)


Suspeitando da Autoridade

 

                        Por um lado Popper teve toda razão em atacar a indutividade como viciosa, embora ela seja boa enquanto paradigma ou programa da ortodoxia, da repetição.

                        O Sol já existe há 4,8 bilhões de anos, ou coisa de 1012 (um trilhão de) dias, mas isso de modo algum garante que ele vá aparecer amanhã. Pelo contrário, quanto mais tempo ele existir maior será a chance de desaparecer. Fará isso, algum dia, pois explodirá.

                        Até o aparecimento do novo sistema cosmológico de Nicolau Copérnico (astrônomo polonês, 1473 – 1543, 70 anos entre datas) todos acreditavam que o Sol girava em torno da Terra, mesmo ele.

                        Até Louis Pasteur (químico e biólogo francês, 1822 – 1895, 73 anos entre datas) dizer que não era assim, a maior parte da humanidade acreditava na geração espontânea, que vermes nasciam de esterco.

 A maior parte da humanidade segue o conhecimento anterior que, aliás, foi proposto pelos sábios anteriores. Se o conhecimento anterior era bom para o mundo anterior, não será para o mundo posterior.  Acontece que o conhecimento anterior foi proposto pelas autoridades anteriores. Como ele se mostrou incompleto, devemos pensar que o conhecimento atual também é e daí devemos duvidar SISTEMATICAMENTE da autoridade, seja anterior, atual ou posterior. Se a dúvida cartesiana é sistemática, que o seja para tudo, inclusive a própria dúvida cartesiana e sobre a necessidade de uma dúvida sistemática, ou seja, metódica, repetida até o cansaço.

                        Enfim, devemos duvidar de quase tudo, menos uma coisa, de quase todos, menos um, até da dúvida excessiva, perguntando em cada caso a que servem a autoridade, a dúvida, o sistema, a dúvida metódica, o cartesianismo (sobreafirmação do que é cartesiano), o darwinismo (superafirmação do que é darwiniano) e assim por diante.

                        Declaração forte e incontestável sobre algo é perigoso, é suspeito, é inquietante. Devemos ser moderados, andar pelas médias, pelo centro, contidos quanto aos excessos, contidos até em relação ao excesso de contenção. As garantias são boas, porém se uma autoridade supergarantir qualquer coisa devemos sair de fininho e ir consultar outros conhecimentos. É bom rir de nós mesmos, duvidar de nossa infalibilidade, de nossa capacidade de sempre acertar e dizer o que é certo. Liberdade é boa, contudo superliberdade, licenciosidade é ruim.

                        Em resumo, há que suspeitar da autoridade.

                        Mantendo sempre em mente que ninguém adquire autoridade sem profundo conhecimento.

                        Para completar, devemos ficar atentos.

                        Vitória, segunda-feira, 24 de junho de 2002.

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