A
Vida Privilegiada do Panelão Fechado
Há panelões
abertos, como o de Iucatã, q.v. Há panelões no mar que são eminentemente
abertos, pois a água entra por cima. E há os panelões de terra, como esse que
presumi estar em Minas Gerais, pelas razões já apontadas.
Pelo fato de
dentro do panelão se formar uma lagoona muito especial, fechada para tudo que
vem de fora, a primeira vida a chegar e a se instalar irradia e coloca barreira
aos estrangeiros, institui evolução-de-defesa, por assim dizer, excluindo os
demais das redes ambientais. Os estrangeiros, que prosperaram lá longe e que
não dispõe dos códigos físico-químicos e biológicos-p.2 de dentro vêem-se em
dificuldades, assim como acontece nos ambientes psicológicos nos quais vivemos,
quando alguém é hostilizado.
De início - dentro
do panelão, com suas bordas altas - na lagoona profunda e de águas calmas
alimentadas pelas chuvas não há do que ter medo e a vida chega a um tipo de
equilíbrio delicioso logo; mas, quando chega um estrangeiro e vence as dificuldades
iniciais, a vida de dentro balança terrivelmente, assim como nas reservas de
mercado que foram abertas (o Brasil e a China são exemplos psicológicos).
O que pode haver
de mais calmo que essa lagoona?
Não é o mar
violento, com suas ondas e marés, suas mudanças contínuas, seu mercado aberto.
Não é como os rios que vão passando – eles não alimentam a lagoona interna (se
muito houver é mina de água). Não há ventos, porque as bordas cuidam de
proibi-los. Não há predadores novos, com nova competição. Não há abalos, visto
ser lagoona em cráton. Enfim, parece mais esse ambiente das elites brasileiras.
Em todo caso, é
privilégio mesmo. Nem nos Lobatos em sua fase mais magnífica e pujante é assim.
E hoje, naturalmente, toda aquela vida em estado de beatitude está tão morta
quanto qualquer morto. Jaz no fundo do panelão, enterrada por camadas e camadas
de aluvião, de quando o panelão foi fechado até a boca em cima. Centenas e
centenas de metros de restos animais e vegetais – extratos formidáveis. Não sei
se nesse tempo dá para formar petróleo, nem se as condições são ideais, mas em
todo caso é o único lugar em terra em que é remotamente possível isso.
Vitória,
terça-feira, 08 de fevereiro de 2005.
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