Tuesday, July 19, 2016

Cadernetinha de SI Papo estranho. Já falei, já falei, é sempre no bar. Também, se fosse em casa eu iria chamar de invasão de domicílio e encher de porrada. É no bar, ambiente público, pode chegar quem paga e até quem não paga, se o dono é amigo e pendura a conta, sei lá, tem gente que é disso. Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós, mas às vezes ela caga na nossa cabeça, é ou não é? Mais uma. Dessa vez foi com um amigo, ele fez que ia levantar, pisei no pé dele, amigo é para essas horas, a contragosto ele foi obrigado a ficar, amuado que só ele, tô nem aí, tem de compartilhar. Chega o cara, falou que tinha ido a uma palestra (nem tinha sido ele a pensar, foi outro!), onde o professor seguidor daquele Von Mises e do Hayek (pesquisei na Internet, depois de escrever os nomes errados, isso são nomes que um pai dê para um filho?), hem, hem, hem, essa coisa de liberdade, já virou abuso. Para encurtar o papo, ele disse que o tal professor mostrou uma caderneta “de encaixe”, ia colocando as folhas picotadas como de caderno de arame, só que com uma fissura para ajudar, depois torcia a guia, prendia as folhas todas, não saiam, achei até esperto, falei, vou copiar, vou patentear, aqui no ES ninguém liga se é dos outros, só depois de patenteado, aí fica seu, de quem pegar. Para não dar muita volta, as folhas são azuis ou vermelhas, azuis para o indivíduo, vermelhas para a sociedade, ou seja, tudo que faz para você e tudo que faz para a coletividade, de início são só duas, uma de cada cor. Aí que ele falou que o professor já tinha patenteado (e eu pensei, “que injustiça, ladrão”, mas em cima eu calei), tinha de comprar os pacotinhos na livraria (“safado, vai lucrar uma baba”), vinha com 10 de cada. Fiquei pensando: vai dar indivíduo de lavada, individualismo, super-afirmação do sujeito. O cabra que estava conosco disse que o professor foi apontando tudo que a criança, a mãe, o pai, o trabalhador em geral, até o empresário, os profissionais e todo mundo (citou um monte) faz desde o momento que acorda na segunda até no domingo e eu “já entendi, já entendi”, querendo provar que na realidade há socialismo, excesso de sociedade, que o indivíduo está esmagado. Perguntei onde tinha a tal cadernetinha, ele falou que o professor tinha distribuído, ele pegou várias para os amigos, na realidade ele ganha no consumo, o espertalhão. Deu uma para mim e outra para nosso amigo, gostei dele, chamou de amigo, gente boa. Trouxe pra casa, de graça até injeção no cotovelo, sem compromisso, tá? O S é de sociedade e o I de indivíduo. Fui anotando e juntando as folhinhas, rapaz, era desproporcionalmente a favor da coletividade, eu quase nada, fiquei impressionado, comecei a ficar revoltado, procurei o sítio do professor, estou indo para a reunião. Assim não vai ficar, quero meus direitos. Serra, sábado, 06 de fevereiro de 2016. GAVA.

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