Saturday, July 16, 2016


Gronk X: Gronk Coopta a Agressividade

 

Já agora o pessoal prestava mais atenção a Gronk, Mirante ficava colado nele, papagajo de pirata, pousado no ombro para tentar levar a fama nas fotografias dos pirados paparraça.

Gronk nem estava aí, ficava pensativo, escapava das feras por pouco, os dentões estavam rodeando. Se antes o pessoal procurava empurrar ele para o fogo amigo, agora já ficavam atentos para evitar que fosse lambido pelos inúmeros perigos daqueles tempos, era um pouco menos que hoje, havia mais feras de quatro pernas, mas menos de duas.

Dessa vez Gronk estava alimentando um lobinho sem mãe com os restos da caçada, deixava ele lamber a carne que tinha ficado nos couros.

Ban ficou puto.

Tá certo que é irmão, mas assim também não.

Foi tirar satisfações.

BAN (espumando, mas evitando bater nele, as mulheres tinham virado fãs, elas perguntariam dos calombos na cabeça e dos olhos roxos) – Gronk, mais uma cagada?

Todos se aproximaram para ver o bate-boca dos irmãos, era acontecimento nobre, pena não poderem guardar detalhes.

MIRANTE (olhando para dentro, os olhos brancos assustadores assombrando o povo em volta, os novatos não estavam acostumados) – vai haver uma coisa, a máquina fodagráfica.

PEGO – vai, tio?

TUOR – lá vem você, não tá vendo que ele é pinel?

BAN – Gronk, você fica dando comida pra lobo?

GRONK – não é lobo, é filhote de lobo.

BAN – é lobo, seu idiota, é filhote agora, vai crescer, vai ser adulto, vai ser lobo, de onde você pensa que vem os lobos, vem dos filhotes, né, seu cavalo de crista.

GRONK – certo, mas agora é filhote, olha os dentinhos!

Ele mostra, eram bonitos mesmo.

BAN – é, vão virar dentões destamanho.

GRONK – não tá fazendo mal a ninguém e vou treinar ele para gostar de nós, quando tiver filhos treino os filhos e os netos, vou treinando, um dia eles vão ajudar a gente a caçar.

BAN – é? É? É? Um dia eles vão te comer ou comer suas crianças, seu cavalo. Além disso, você tá dando nossa comida.

GRONK – não é nossa comida, são restos, barrigadas, carne que ficou nas peles, ninguém vai mesmo aproveitar. Porcaria.

BAN – esqueceu que a gente usa as barrigadas para atrair os dentões e mata-los?

GRONK – não peguei dessas, peguei dos restos mesmo, que ficam para trás, que ninguém usa para nada.

MIRANTE (virando os zoinhos e dizendo “eu sou filho de São Salvador”, os baianos maconhados são descendentes dele, umas ervas que ele andava fumando) – sei lá, 300 a 800 raças descendentes desse aí que o Gronk tá levando.

GRONK – brigado, mano.

BAN – se essa coisa me morder eu acabo com a raça dele.

GRONK – vou tomar conta.

Bem, o fato foi que Gronk tomou conta mesmo, levou no colo não sei quantos quilômetros, foi hilário, às vezes Mirante ajudava, lá iam os dois palhaços. Mas cuidou, com a ajuda do Mirante e das crianças maiores da tribo (as mulheres não queriam nem ver por perto) num lugar mais longe, iam visitar o cercadinho, ficavam brincando com ele, arranjaram uma fêmea, outro filhote, bem bonitinha, os dois cresceram, mas foram ficando amigos, com o passar do tempo estavam de fato caçando junto do pessoal, mais uma vitória do Gronk, não é que deu certo? Quando Ban morreu já bem velho com 51, Gronk herdou a chefia, tornou-se venerado ancião, chegou ao 59, seu filho mais velho assumiu depois dele, também foi treinado a pensar. Deles, desses pensadores descende a humanidade. Bem, nem todos, alguns são de outras tribos.

Serra, segunda-feira, 18 de janeiro de 2016.

GAVA.

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