Sunday, July 17, 2016


Gronk XIV: Petiscos

 

Se Gronk não era ainda o xodozinho a ponto de escapar dos croques, dos pescotapas, dos pescoções, dos petelecos, dos “telefones” (Mirante que deu esse nome para a brincadeirinha nossa, disse que era uma coisa que ia existir, já nem duvido mais), dos socos amistosos, dos cachações, dos tabefes, das bifas, pelo menos não era mais com raiva, era amizade (não digo carinho, que isso não existe entre homens).

Uma rasteira aqui, um chute por trás do joelho, uma tesoura, mas tudo na pura amizade, sem frescuragem, só na boa.

Gronk, da parte dele, continuava inventando depois do cão, do cavalo, do laço, da padiola, dos fermentados que estávamos exportando para as tribos vizinhas. Depois que a tribo dos Iracas e dos Siriacas ameaçaram invadir a gente, segundo as notícias, nós invadimos eles preventivamente, acabamos com eles. Bem, como é que eles sendo tão pequeninos perante a nossa tribo tiveram essa ideia de nos invadir eu não sei, foi o que rolou, parece que estavam preparando instrumentos de destruição em massa, ficamos agitados e fomos lá testar as novas armas que o Gronk vinha inventando.

Depois de um pouco aliviado o pessoal até passava perto do Gronk, punha a mão no ombro e apertava, no conhecido gesto masculino de positivação, legal, companheiro, “legal, mas se você vacilar vai levar porrada”, todo mundo sabe disso.

Bom, tudo isso para dizer que o Gronk veio com mais uma das dele quando fomos caçar os javalis com aqueles dentões curvos, são perigosíssimos, podem facilmente estripar um homem adulto parrudo, porisso mandamos os jovens, apenas para testar a coragem deles, morreram quatro, todos valentes, nesse dia, vou te contar, foi pesado, quase choramos por eles.

Matamos 10, foi bonito ver o pessoal correr e subir nas árvores, correndo de porco, vê se pode, eles ficavam em baixo arremetendo com os dentões curvos assim, se medisse dava mais de metro, balançavam as árvores com as cabeçadas, depois disso nós rimos muito.

Foi nesse dia, depois do almoço, já de tarde que Gronk abriu o sacolão dele para mais uma novidade, “petiscos” (Mirante que falou, diz que no futuro – no passado não seria – muita gente vai viver de vender “salgadinhos”, sei lá o que é isso, ele que disse). Sacolão assim, ó, destamanho, não foi ele que trouxe, pegou dois infantes, dois idiotinhas todos oferecidos e mais dois que foram substituindo, ficaram resmungando, mas foi só dar um corretivo, num instante estavam cheios de boa vontade.

Bem, Gronk foi tirando e dando, era uma talagada da água ardente e um petisco, outra talagada e outro petisco, as hienas vieram sorrateiramente e levaram os porcos, os sacanas dos vigias caíram na farra também, sobrou muita pancada.

Essa foi a outra vez em que dormimos perto da caverna, caçamos um monte de preás, salgamos, falamos que tínhamos fatiado os porcos, as mulheres não acreditaram, mas desde que o bando de crianças estava alimentado elas não reclamaram. Os petiscos foram mais uma venda, estávamos globalizando.

Serra, quarta-feira, 20 de janeiro de 2016.

GAVA.

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