Sunday, July 17, 2016


Gronk XVII: O Enterro de Ban

 

Quando Ban morreu aos 51, já bem idoso, o enterro dele foi memorável, até porque tínhamos incorporado várias cavernas das redondezas, incorporação facilitada ou incorporação hostil, tanto faz. A fama de Ban era grande, fiz a vida-grafia dele, tratei de colocar ele lá em cima, fiz dele um super-herói, só faltava voar, a criançada ficava doida querendo imitar os superfeitos, as mulheres olhavam de banda, naquela época elas morriam cedo, 25-30 anos, depois de 20 a 50 filhos, muitos gêmeos e trigêmeos, a caverna foi entupindo, foi preciso enviar expedições para achar outras e fundar outras comunidades-filhas da comunidade-mãe.

Uma choradeira!

Não vou dizer que não chorei, chorei um pouco, afinal era toda uma era que se encerrava sob a liderança de Ban, grande Ban, Big Ban (depois algum idiota, não sei qual, para parecer estouro chamou de Bang, Big Bang, quero dizer que não fui eu quem inventou, só estou escrevendo).

Gronk mesmo foi um que se desmanchou, esqueceu dos tapões, esqueceu das partes ruins, se eu não tivesse escrito não acreditaria. Mirante disse que isso ia se chamar história lá pra frente, eu que comecei essa mentirada, quem quiser que compre.

Ban morto, Gronk posto.

Logo de volta do enterro (colocamos um monte de coisa dele no buracão, para ele não sentir falta lá nas caçadas do Céu), levantei a mão do Gronk, fui o primeiro a puxar, a turma toda aderiu, Gronk virou chefe, tinha 34, estava no auge da força física e mental, foi um bom governante.

Você se lembra, sou cinco anos mais velho que o Gronk, encostei no chefe, fui ser conselheiro, a patotinha que cercava o chefe e vivia no bem-bom, não íamos mais caçar, mandávamos a juventude enfrentar as feras, nós, os generais na retaguarda, eles de bucha de canhão (não existe ainda, mas o Mirante garante que vai existir, me explicou tudo). Lá ia a garotada, uns 10 % não voltavam, é a vida, uns morriam na lança amiga, outros iam alimentar as feras, desse jeito, mas traziam, traziam, nós que ficávamos inventariando, as mulheres guardando, tava bom pra Dedéu, Dedéu é um grande cara, tava bom para nós.

Nós ficávamos nas redes.

Gronk inventou as tabas, umas construções fora das cavernas para não precisarmos mais ir procurá-las (na realidade, mandávamos os garotos valentes, enchíamos as bolas deles, defesa da pátria contra o invasor vil, armas de destruição em massa, essas coisas, uns aproveitavam para casar por lá mesmo, se estabeleciam, etc., nós mandávamos outros garotos mais parrudos trazê-los para o curral, sempre administrando uns corretivos).

Estávamos em, assim como estou contando, quando um idiotinha, conversando comigo, perguntou assim na tampa: e se Gronk morrer?

Fiquei passado, sem ação, tomei um susto. Olhei para ele, prestei atenção, mirei de novo, de novo e de novo, atentei mesmo, fixei, arregalei os olhos.

Falei: foi bom você ter pensado isso, vamos tomar providência.

Sem Gronk saber, Dedéu ajudou, levou o garoto para o mato com mais três, deram uma surra de lascar o cacete, devo dizer que ele aguentou firme, não gemeu nem nada, entendeu, eu acho, voltou, o pessoal disse que ele tinha caído da pirambeira, ele confirmou, ficou por isso mesmo.

Gronk não ficou sabendo de nada, mas o Mirante sim, não falou nada, era fã do Gronk, sempre legal, tinha casado com três irmãs do Mico, ficou pagando Mico o resto da vida, Mirante engordou e falou: vou ter colesterol, glicose, artrose e várias coisas assim, taxas mais ou menos altas, não entendemos nada.

Depois de inventar as tabas Gronk inventou as cercas e as canoas, ele tava que tava mesmo! Puxa vida, que criatividade! E os filhos dele iam pelo mesmo caminho, tavam fazendo sucesso, colocaram várias empresas, até falaram com o pai: pai, e se a gente criasse as vilas? (Que seriam reuniões de várias tabas, Mirante falou que iam fazer sucesso no futuro, milhares e milhares, nós não sabemos o que é isso, os que sabem mais contam até 80).

Também engordei, não vou negar, é da idade, uns quarenta quilos, eu acho, sendo baixinho estou igual um barril, mas tá bom, sou escritor, ninguém fala mal senão eu lasco a lenha, falo mesmo, publico críticas.

Os meus escribinhas tão trazendo notícias pra mim, sou o editor chefe, vou colocar um diário, notícia diária, justamente, quem quiser vai ter de pagar, o Mirante disse que isso vai se chamar capetalismo, um troço assim, eu acho.

Serra, domingo, 24 de janeiro de 2016.

GAVA.

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