Saturday, July 16, 2016


Gronk XIII: Farol de Milha

 

Mirante ficou conhecendo esse (não sei como, nós nem chegamos perto da tribo dele, parece que ele é Uruquai, lá o consumo é livre, qualquer um pode fumar na rua), não sei se foi por telebatia (“batia” de longe, diz ele), o fato foi que esse doidão chegou até a gente, só que ele “via” muito mais longe no tempo, daí o nome, a gente não entendeu nada, nem o que era farol nem o que era milha, o Mirante disse que eram coisas que iriam existir, uma daquelas doideiras dele. Ficaram grudadinhos no Gronk, mas o Gronk não é chegado na coisa.

Para você ter uma ideia, o Farol de Milha tinha os cabelos esticadões, assim para cima, parecia que tinha tomado um choque, espetadões. Bom, ele que se dane, é dele, não é meu, se fosse de caçar correndo nas trilhas iria ficar preso nos galhos, aí é que eu iria rir, rá-rá-rá.

Pois esse zuretão, doidão, viradão, os oinho arregalado, ficava fazendo umas bijuterias, as mulheres trocavam por coisas delas, comida, ficaram emperiquitadas, umas madames mesmo, inclusive a minha, que sou o escriba da turma, arranjei um jeito de guardar as memórias, estou aperfeiçoando.

ZOIÚDO (que é como chamamos ele, as projeções dele iam muito mais longe que as do Mirante) – e aê, gente boa (falava assim mesmo), tá de boa? Que que manda, mermão? Vamo arrepiar, manos. O sol vai explodir em cinco bilhões de anos.

MIRANTE – o quê? Você falou cinco milhões?

ZOIÚDO – não, cinco bilhões.

MIRANTE – ah, bom, você me deu um susto danado.

Não entendi pôrra nenhuma, mas anotei de qualquer jeito.

MIRANTE – é, ele fala assim mesmo.

ZOIÚDO – que que tu tá fazendo, mano Gronk?

GRONK (concentrado) – trouxe umas fermentações das mulheres, elas notaram que os cultivos deixados nas vasilhas produziram uns líquidos, tomaram, ficaram lelés, me falaram disso, estou vendo se aprimoro.

MIRANTE – dá um pouco.

Tomou bastante, ficou alegrinho, saltitante.

BAN (como chefe ele prestava atenção em tudo) – que é que se trata?

GRONK – uns fermentados das mulheres, tô melhorando a aparência, vai querer?

Ban experimenta também.

BAN – essa bateu forte, se segura, peão, desceu lascando, rasgando a goela, tô tonto.

ZOIÚDO (lembrando da piada) – não tô sentindo nada.

MIRANTE – como assim? Você tomou três potes. Fora as outras coisas, que eu sei, nem adianta negar.

ZOIÚDO – não tô sentindo as orelhas, não tô sentindo as mãos, não tô sentindo as pernas, não tô sentindo o nariz.

NICAL (um dos pentelhinhos recém-agregados) – posso dar uma talagada?

BAN – como assim? Você é menor de idade, ainda vai fazer 14, vê se te manca, guri.

NICAL (conformado, guardando para um dia fazer com outro boboquinha) – poxa, tio.

BAN – não sô seu tio, tio é a mãe, se me chamar de velho outra vez nem vou bater eu mesmo, vou pedir a seu pai pra te dar uma surra. Dá mais um pote aí, Gronk.

PATERMAL (tinha vindo de outra turma, levou umas porradas, ficou por ali, foi incorporado, mostrou-se correto e companheiro) – tô nessa, negada, manda ver.

Ele falava assim mesmo.

GRONK – não posso dar muito, ainda está em teste.

Bom, o caso foi que todo mundo bebeu aquela água que passarinho não bebia, ficou todo mundo pirado, inclusive eu, mais uma vez não conseguimos pegar a grande proteína, voltamos, dormimos um dia antes da caverna, caçamos algo de ressaca mesmo, umas antas, mas não foi a Dilma nem o Lula, as mulheres até que não ficaram com muita raiva.

Nas caçadas seguintes o Gronk já tinha aperfeiçoado muito, não conseguíamos caçar, fomos pescar (essa coisa fresca), encomendamos material às mulheres, começamos a fabricar para vender.

Serra, quarta-feira, 20 de janeiro de 2016.

GAVA.

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