Sunday, November 03, 2013

100 Mil Argentinos (da série Expresso 222..., Livro 4)


100 Mil Argentinos

 

                        Um dos motoristas que dirige a condução que nos leva ao posto fiscal, Z., disse que ficava indignado com a pretensão do governo federal de abrir as fronteiras para a entrada de 100 mil argentinos que desejavam migrar para cá. Dizem que, com a recente crise que por lá grassa, um outro número de 100 mil está catando comida nas ruas, como indigentes, novos miseráveis.

                        A Argentina tinha em 1999 36,6 milhões de habitantes. Então 100 mil seriam 0,28 %, ou um em cada 400 argentinos, aproximadamente. Por outro lado, em relação à população brasileira da mesma época, 164 milhões, seriam 0,06 % ou em cada 1.640 brasileiros.

                        Quem, num terremoto, quando a casa do vizinho estivesse desabando ou sendo consumida pelo fogo, se recusaria a ajudar e a receber os sinistrados em casa?                 

                        Quando vejo gente assim sinto repugnância pelo gênero humano. Penso que todo o trabalho foi perdido.

                        Ademais, seria preciso pensar que os argentinos viriam para trabalhar. De modo algum ficariam inativos, sendo sustentados pelos brasileiros. Argumenta-se que existem muito mais brasileiros em situação difícil, que os governos e as empresas não ajudam.

                        De qualquer modo o modelo-porta diz que 2,5 % de todas as pessoas se recusarão sempre a trabalhar, no Brasil de 1999 4,1 milhões, 41 vezes o tanto pretendido de argentinos. Não adianta ajudar, eles não trabalharão, desde ricos e médios-altos a pobres e miseráveis – sempre serão parasitas (mas isso também é previsto e usado pelo universo). Ora, os argentinos, pelo contrário, estando em pátria nova, trabalhariam em dobro, para recuperar o que perderam e crescer na nova oportunidade.

                        E quanto aos brasileiros que estão em má situação quantos, mesmo querendo trabalhar, não encontram a oportunidade em que se desenvolveriam?

                        Enfim, nas dobras de qualquer grande país há sobras tão grandes que podem acomodar muitas vezes 100 mil. E o Brasil é verdadeiramente grande em qualquer sentido.

                        Espero mesmo que esse tipo de atitude não prevaleça.

                        Vitória, domingo, 07 de julho de 2002.    

                  

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