As
Sete Faces da Ficção e da Fantasia
O extraordinário livro
de Charles G. Finney, As Sete Faces do
Dr. Lao, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1979, foi publicado em 1935 nos
EUA (no original The Circus of Dr. Lao,
O Circo do Dr. Lao, muito melhor, porque evoca círculo, o próprio Globo ou
Terra, com tantas aberrações que somos os seres humanos) e continua risível,
formidável, passados 67 anos. Não obstante, Sete Faces aponta para sete farsas,
sendo sete o conhecido número místico – sete falsificações.
The Saturday Review
saudou como “uma obra-prima da fantasia” e é de fato. Porém Ray Bradbury foi
infeliz em dizer que é “uma espécie de Divina Comédia circense”, porque Dante
estava descrevendo o Inferno superior, recorrendo à fantasia religiosa, ao
passo que Finney usa o fantástico para falar das misérias humanas, no CÍRCULO
DO BUDA ELI, Natureza/Deus, Ela/Ele.
É claro que o Dr. Lao
está mostrando os próprios seres humanos em terríveis condições, Finney
recorrendo a alegorias.
No final Finney coloca o
Catálogo (“Uma explicação do óbvio, que tem de ser lido para ser apreciado”)
com descrições engraçadíssimas, das quais listo estas: 1) Urso Polar (...). A
Mãe Natura criou campos de neve para os ursos polares, pinheirais para os ursos
negros, montanhas para os ursos cinzentos e lojas de brinquedo para os ursinhos
de pelúcia”, um poderoso argumento antiantropocêntrico e anti-antrópico, 2)
Ouriços: “Almofadinhas de alfinetes que odeiam a chuva”, e 3) O Pai do
Garotinho Mulato Gorducho: “(...) e era bom agricultor. Quando plantou semente
de arroz, nasceu arroz. Quando plantou sementes de tanchagem, nasceu tanchagem.
Quando plantou sua própria semente nasceu o garotinho mulato”.
Enfim, grande obra.
Contudo, há no fundo uma
pesadíssima carga de mal e deboche, como que de uma entidade extremamente
irritada. É pavoroso ver, ler esse fundo por baixo da superfície coruscante,
brilhante, faiscante, chamejante, cintilante – podridão inimaginável, tentativa
de corrupção dos maiores valores não só cristãos como de todas as religiões.
Quem foi Charles Finney?
Como viveu? De repente tudo isso passa a interessar muito, demais da conta,
como diz o povo.
O livro foi encenado de
forma bem pobre, cheguei a ver, como As 7 Faces do Dr. Lao, The 7 Faces do Dr. Lao, EUA, 1964, Tony
Randall e Bárbara Éden como ator e atriz principais, direção de George Pal,
recebeu três estrelas no guia de vídeo da Editora Abril de 1996. Não foi nada
de excepcional, mesmo sem o conhecimento de tais profundezas arrepiantes e
demoníacas.
E quanto aos demais
textos de FC e de Fantasia?
Ah!, existem muitos
assim perversos, em vários graus. É claro que a FC e a Fantasia, para não falar
da prosa e da poesia, nunca foram analisadas sob essa ótica, quando ela
renderia muitas teses de mestrado e doutorado.
Vitória, segunda-feira, 01
de julho de 2002.
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