Sunday, November 03, 2013

As Sete Faces da Ficção e da Fantasia (da série Expresso 222..., Livro 4)


As Sete Faces da Ficção e da Fantasia

 

                        O extraordinário livro de Charles G. Finney, As Sete Faces do Dr. Lao, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1979, foi publicado em 1935 nos EUA (no original The Circus of Dr. Lao, O Circo do Dr. Lao, muito melhor, porque evoca círculo, o próprio Globo ou Terra, com tantas aberrações que somos os seres humanos) e continua risível, formidável, passados 67 anos. Não obstante, Sete Faces aponta para sete farsas, sendo sete o conhecido número místico – sete falsificações.

                        The Saturday Review saudou como “uma obra-prima da fantasia” e é de fato. Porém Ray Bradbury foi infeliz em dizer que é “uma espécie de Divina Comédia circense”, porque Dante estava descrevendo o Inferno superior, recorrendo à fantasia religiosa, ao passo que Finney usa o fantástico para falar das misérias humanas, no CÍRCULO DO BUDA ELI, Natureza/Deus, Ela/Ele.

                        É claro que o Dr. Lao está mostrando os próprios seres humanos em terríveis condições, Finney recorrendo a alegorias.

                        No final Finney coloca o Catálogo (“Uma explicação do óbvio, que tem de ser lido para ser apreciado”) com descrições engraçadíssimas, das quais listo estas: 1) Urso Polar (...). A Mãe Natura criou campos de neve para os ursos polares, pinheirais para os ursos negros, montanhas para os ursos cinzentos e lojas de brinquedo para os ursinhos de pelúcia”, um poderoso argumento antiantropocêntrico e anti-antrópico, 2) Ouriços: “Almofadinhas de alfinetes que odeiam a chuva”, e 3) O Pai do Garotinho Mulato Gorducho: “(...) e era bom agricultor. Quando plantou semente de arroz, nasceu arroz. Quando plantou sementes de tanchagem, nasceu tanchagem. Quando plantou sua própria semente nasceu o garotinho mulato”.

                        Enfim, grande obra.

                        Contudo, há no fundo uma pesadíssima carga de mal e deboche, como que de uma entidade extremamente irritada. É pavoroso ver, ler esse fundo por baixo da superfície coruscante, brilhante, faiscante, chamejante, cintilante – podridão inimaginável, tentativa de corrupção dos maiores valores não só cristãos como de todas as religiões.

                        Quem foi Charles Finney? Como viveu? De repente tudo isso passa a interessar muito, demais da conta, como diz o povo.

                        O livro foi encenado de forma bem pobre, cheguei a ver, como As 7 Faces do Dr. Lao, The 7 Faces do Dr. Lao, EUA, 1964, Tony Randall e Bárbara Éden como ator e atriz principais, direção de George Pal, recebeu três estrelas no guia de vídeo da Editora Abril de 1996. Não foi nada de excepcional, mesmo sem o conhecimento de tais profundezas arrepiantes e demoníacas.

                        E quanto aos demais textos de FC e de Fantasia?

                        Ah!, existem muitos assim perversos, em vários graus. É claro que a FC e a Fantasia, para não falar da prosa e da poesia, nunca foram analisadas sob essa ótica, quando ela renderia muitas teses de mestrado e doutorado.

                        Vitória, segunda-feira, 01 de julho de 2002.

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