Sunday, November 03, 2013

A Copa do Nacionalismo (da série Expresso 222., Livro 4)


A Copa do Nacionalismo

 

                        A Copa do Mundo terminou hoje, 30 de junho de 2002, com a conquista da taça e do penta pelo Brasil no jogo contra a Alemanha, 2 a 0. Um comentarista disse que essa copa foi diferente de todas as outras, pois os brasileiros comemoraram (e ainda estão e ainda vão comemorar) mais que em qualquer tempo antes.

                        Identificou a coisa, mas não proporcionou explicação, que dou.

                        Como já disse, lá por 1985 previ a vinda de uma onda de nacionalismo. Ora, a dialética diz isso: havendo o contrário o contrário do contrário fatalmente aparecerá no tempo próprio. Qual é o tempo certo? No modelo adiantei possibilidades, com base em ciclos de 4 x 7 = 28 anos, mas agora acredito que o ciclo próprio da Terra é de 30 anos.

                        Por quê esta onda veio agora e não antes ou depois?

                        A razão prende-se ao trabalho iniciado por Fernando Henrique Cardoso como ministro de Itamar Franco, vice de Collor que assumiu com o afastamento deste. Eleito presidente entrou em primeiro de janeiro de 1995 e implantou as reformas de base que ninguém viu. É claro que do outro lado desperdiçou os 80 bilhões de dólares da privatização e fez a dívida interna prosperar de US$ 17 bilhões até (780 bilhões de reais divididos por 2,90 reais por dólar =) 270 US$ bilhões, 16/1 em apenas 7,5 anos, e outras porcarias. Entrementes a inflação teve fim, o FGTS está sendo pago, várias coisas boas.

                        Acontece que em seu governo pela primeira vez foi preso um juiz (o Lalau) vários senadores foram afastados depois de 150 anos sem que um só tivesse sido destronado.

                        De forma que, juntando tudo, o povo passou a ter uma nova perspectiva do futuro, depois de 500 anos de opressão e de várias décadas de inflação galopante e desconsideração proporcional das elites.

                        No geral FHC foi mais positivo que negativo e a população sentiu isso. Se segue que naturalmente foi disparado o auto apreço. Sendo assim povo e elites passaram a se ver com outros olhos. Então a onda de nacionalismo chegou e a Copa de 2002 foi um sinal inequívoco dela, daí eu ter colocado o título. Sem dúvida alguma o Brasil terá cada vez mais intensamente brio e dignidade, com a evidenciação da satisfação de ser brasileiro. É fatal e é até muito bem vindo, porque isso ajudará toda a América do Sul, toda a América Latina, todo o mundo latino, todo o terceiro mundo – tornando-se o Brasil um guia da renovação.

                        O cara lá identificou certo e não soube interpretar.

                        Contudo, é isso, e disso podemos esperar grandes coisas.

                        Vitória, domingo, 30 de junho de 2002.

                       

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