No livro de Gore Vidal, Criação, Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1984, p. 527, um personagem egípcio diz: “Meu povo construiu as
pirâmides como um exercício baseado na matemática celestial”.
É claro que é Gore Vidal
falando, portanto americano nascido no século passado, o XX, e não qualquer
egípcio real de 500 antes de Cristo, mas mesmo assim. Se não fosse pela Rede
Signalítica a coisa passaria em branco, como passou na minha primeira leitura.
Com esta podemos ver que
matemática celestial = ASTRONÁUTICA CELESTE, e outras traduções cognatas. Veja
que ele diz “exercício”, como se fosse mesmo um mero exercício de matemática,
treinamento corriqueiro. É claro que Gore Vidal não poderia saber do modelo, o
original americano é de 1981 e o modelo nasceu em 1992, a Rede e a Grade signalíticas
sendo de 1994 no Brasil e numa língua que ele não conhece, o português.
Quer dizer, técnica de
navegação entre os astros.
Bom, o que as pirâmides
tem de especial que representem os astros? Dizem alguns investigadores que elas
representam as “Três Marias”, uma pseudoconstelação de estrelas em aparente
alinhamento no céu. Constituiriam cada pirâmide e todas elas um mapa celeste?
De que modo?
Aparentemente as
pirâmides nada têm de especial. Por exemplo, a maior delas, a de Quéops, tem
145 de altura por 230 metros em cada lado do quadrado de base, e isso nada
significa. É claro que as pirâmides não foram construídas em metros (o metro é
a décima milionésima parte de um quarto do círculo máximo meridiano, que passa
pelos pólos, na definição de depois da Revolução Francesa de 1789), em nenhum
lugar, e ao fazer as contas devemos obter números inteiros ao dividir alturas
pelos lados da base, ou vive-versa, por exemplo, 230/145 = 1,5862069896..., que
deveria ser o metro deles. Eles tinham os “medidores de passos do rei”, o
instituto metrológico de lá. Erastóstenes de Cirene (grego, 276 a por volta de 194
antes de Cristo), trabalhando em Alexandria, calculou a circunferência da Terra
(tendo desenhado mapas com paralelos e meridianos – ele sabia que o planeta era
redondo), determinando a distância entre Alexandria e Siena (hoje Assuam) como
sendo de cinco
mil estádios egípcios, doravante EE, ou 1/50 do meridiano, distância
de um pólo a outro. Fez isso observando o Sol na vertical nas duas cidades ao
meio dia, chegando à conclusão de que o ângulo entre ambas seria de sete graus,
quer dizer, 1/50 de 360º = 7,2º, segundo Carl Sagan em seu livro Cosmos, Rio de Janeiro, Francisco
Alves, 1982, p. 14/5. Sabendo que tal distância era de aproximadamente 800 km,
concluiu que a circunferência deveria medir 40.000 km. A distância
contemporânea é de 40.036 km, a partir de um raio de 6.372 km. Observe que
40.036/40.000 = 1,0009, ou 40.000/40.036 = 0,9991, erro de 0,0009, nove partes
em 10.000 (ou uma em mil)! Para comparar, pensemos que a distância de Vitória a
Linhares é de, digamos, 140 km, em algum ponto dentro daquela cidade; se Erastóstenes
tivesse sido consultado para medi-la, teríamos uma diferença de 126 metros.
Vendo de outro modo, o
METRO EGÍPCIO, isto é, a CONFIABILIDADE DAS MEDIDAS naquele tempo, século III
antes de Cristo, seria de 9/10.000, ou um erro de 0,9 mm num metro. Perceba bem
que precisão tremenda.
Para começar, eles
tinham institutos de metrologia MUITO confiáveis, mais confiáveis que os da
maioria dos países de hoje. Porém não tanto assim.
O ESTÁDIO EGÍPCIO valia,
portanto, 800 km (ou 800.000 metros) divididos por 5.000 estádios = 160 m por estádio,
diferença de 9/10.000, como vimos, ou 144 mm. Como seria possível obter medida
tão exata (três zeros) quanto 5.000 estádios? Não obteve 4,5 mil, ou 5,5 mil,
ou qualquer outro número (4.995 estádios, digamos). E sim, precisamente, cinco
mil. Claramente ele escolheu um ponto em Alexandria, mandou os medidores
medirem os cinco mil estádios, colocou a outra vareta e usou algum processo não
trivial, com o qual não posso atinar agoraqui. Naquele tempo as cidades já
tinham três ou quatro quilômetros de comprimento, diferença de 19 a 25 estádios
egípcios. Tal falta de 25 estádios em 5.000 corresponderia a um erro de 0,5 %.
Ele não fincou a vareta em qualquer lugar, foi num lugar preciso.
Depois, veja que o
estádio egípcio (EE) sendo de 160 m, a pirâmide de Quéops mediria 0,9063 de
altura por 1,4375 EE no lado da base. É bem sabido que as pessoas não toleram
“números quebrados”, querem múltiplos das bases. No nosso caso, somos fixados
nos múltiplos da base 10 (10, 10 x 10 = 100, 10 x 10 x 10 = 1000, etc., os
chamados “números inteiros”). Para a Pirâmide de Quéops medir 1,0000 EE, ela
deveria ter EXATAMENTE 160 m de altura, e para ter lado da base igual a 1,5000
EE, 240 metros, ou seja, 15 metros a mais na altura e 10 metros a mais no lado
da base. Sabe-se que as coberturas (bem como seus interiores saqueados) das
pirâmides foram tiradas posteriormente por ladrões , para construção de casas. Sabemos também que o lugar não
era árido como agora, havia belos bosques, com lagos, com paisagens onde
passear.
Penso que as pirâmides
ERAM IGREJAS, lugares onde iam cultuar os deuses, e depois objetos de adoração
em si. Se foram usadas como túmulos foi como nas igrejas ocidentais, onde os
corpos dos mortos mais meritórios repousam.
Assim,
240/160 = 1,5000, um número que deveria ter um significado especial, mas na
realidade não tem.
Deveríamos
esperar uma regra matemática simples (embora celestial), do tipo 2H, H sendo a
altura, como lado do quadrado de base. Isso daria como diagonal do quadrado √8,
um “número quebrado” (quando os Pitagóricos descobriram a raiz quadrada isso
acabou com a sociedade deles em 500 antes de Cristo), o que é insatisfatório.
Se fosse √9 = 3 para a diagonal, teríamos D = 3 H. No triângulo retângulo, D2
= 9 H2 = 2 L2, donde L = 2,1213 H. Para D = 2H teríamos L
= 1,414141...H, ou L = H √2. Por aí não vai.
Tomando
a altura de 145 m e multiplicando por √2, teríamos 226,27 metros para o lado da
base. Não dá para encurtar o lado da base, portanto não é isso. O lado da base
deve ser fixo, 230 m mesmo, mais a cobertura que havia, para ocultar as pedras
e dar aparência contínua à pirâmide.Daí, dividindo 230 pela √2, teríamos
162,6346 m, quase o EE que calculamos, 160 m. Entrementes, se o EE fosse esse,
162,6346 m, aí teríamos uma regra simples.
Em
resumo: o lado da base seria mesmo de 230 m (isso é permanente, não pode mudar)
e a altura deveria ser de 162,6346 m (mas é de 145 m).
Observe ao que estou
querendo chegar: Erastóstenes não poderia, de modo algum, ter produzido uma medida
TÃO CORRETA quanto 5.000 EE. Embora os “medidores de passos do rei” pudessem
ser excepcionais, eles passavam sobre montanhas, dunas, rios, o que fosse, e
não produziriam algo tão notável quanto 9/10.000. Se o EE fosse de 162,6346 m,
então 5.000 EE = 813,1728 km, e não 800 km certinhos. Com isso 50 vezes a
distância entre Siena e Alexandria = 40.658 km, diferença para mais de 1,5 %, o
que estaria dentro ainda da margem estatística de erro.
Definitivamente não era
de 800 km a distância entre as duas cidades, embora pudesse ser de 5.000 EE,
com o EE valendo outra medida, restando saber se os egípcios usavam base 10.
Qual é essa medida é que
é o problema agudo.
A questão é que essa
medida, o EE, DEVE SERVIR PARA TODAS AS PIRÂMIDES, pois se trata de um exercício
de matemática celestial, como disse Gore Vidal, produzindo relações
simples, com números redondos, nalguma base. Só se forem achadas essas
condições, sucessivamente, é que se tratará de uma mensagem matemática. Não pode haver
variações, ajustamentos, acomodações à esquerda e à direita, para
fazer parecerem sábios os egípcios e outros povos antigos. Eles não eram sábios
como nós, de sabedoria própria, cavada duramente pelo Conhecimento autêntico e
independente. SE constituíam, como dizem as lendas, povos decaídos, não
passavam de propagadores de mensagens, ou seja, meros transmissores que
rapidamente estavam esquecendo o significado das mensagens.
Por enquanto o que
deduzimos é que havia um EE (estádio egípcio), uma medida rigidamente
controlada por um instituto de metrologia. Que a distância entre Siena e
Alexandria não poderia ser, de modo algum, precisamente 800 km (dois alinhamentos
de base 10). Que a medida de Erastóstenes não teria condições de ser de 5.000
EE (três alinhamentos de base 10) senão se ele tivesse, de propósito, assim
estabelecido. Que a precisão da medida não poderia atingir 10 (9) por 10.000
(1/1.000, três alinhamentos de base 10 – os estatísticos devem calcular a
improbabilidade).
Tomando como certo que
ele tivesse escolhido 5.000 EE, se a distância real de Siena a Alexandria fosse
de 800 km, teríamos que 5.000/800 = 6,25 EE/km. Agora, 625 = (5)4 =
5 x 5 x 5 x 5 = 25 x 25. Acontece que Alexandria afundou no mar, e embora Siena
esteja no mesmo lugar enquanto Assuam (onde foi construída a represa de mesmo
nome no Egito atual), onde ela ficava antigamente? Como puderam deduzir que
eram exatamente 800 km? Dado tal valor a medida de Erastóstenes iria ser de 50
x 800 = 40.000 km, com aquela estupidamente mínima diferença, coisa insignificante,
36 km em 40.000 km, menos de um milésimo. É esperar demais, mesmo dos sábios de
Alexandria e dos medidores de passos do Faraó.
No livro de Sagan ele
coloca no rodapé que a distância entre Alexandria e Siena é de “cerca de 500
milhas”, e 500 milhas x 50 = 25.000 milhas, ou 40.036 km, donde uma milha seria
= 1,6014 m. Na realidade a milha é, pela definição aceita, igual a 1,609 m,
donde 25.000 milhas valem 40.225 km, 189 km a mais que a medida correta. “Cerca
de 500 milhas” não é a mesma coisa que 500 milhas, exatamente, que
corresponderiam a 804,5 km, não 800 km, exatamente.
Tudo vai ficar mais
fácil se aceitarmos que o estádio tinha outra metragem. Segundo o Houaiss, o
estádio grego (EG) = 125 (53 = 5 x 5 x 5) pés geométricos gregos, ou
206,25 m. Ai o PÉ GEOMÉTRICO GREGO valeria 1,65 m. O pé atual, enquanto medida,
é definido como (exatamente) 12 polegadas, ou 30,48 cm. Conseqüentemente num pé
geométrico grego caberiam 5,4134 pés atuais.
SE era uma “matemática
celestial”, não é fácil de decifrar.
Ainda mais estando
presente em todas as pirâmides. Cada um e todas devem significar uma cifra e
uma soma de códigos, como palavras de uma seqüência, como uma instrução. Para
ser verdade, instruções exatíssimas deveriam ser passadas de geração a geração,
o que é improvável. Com todas as mudanças socioeconômicas um grupo deveria
ficar permanentemente no poder, de modo a conduzir as construções sucessivas,
conduzindo os dirigentes, e estes aos trabalhadores (das cinco classes).
Parece uma coisa como o último
Teorema de Format.
Pode existir uma
solução, mas ela não é trivial.
Vitória, sábado, 8 de
junho de 2002.
José Augusto Gava.
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