Tuesday, November 05, 2013

Meteorito em Valadares (da série Expresso 222..., Livro 5)


Meteorito em Valadares

 

                        Meu irmão, José Anísio Gava, trabalhou na CVRD, nas Florestas Rio Doce (o ramo que fazia as plantações de eucaliptos, destruindo centenas de km2 de Mata Atlântica com tratores imensos e correntes inacreditáveis) lá pelos idos da década dos 1970, começo dela, em São Mateus, norte do Espírito Santo. Fui com ele a um escritório que havia no chamado Prédio da Vale, centro de Vitória, onde agora funciona a Secretaria de Estado da Administração e da Previdência (SEARP, antiga SEARH, Secretaria de Estado da Administração e dos Recursos Humanos – os dirigentes são mestres em ficar mudando o nome das coisas).

                        Lá fiquei olhando os mapas da Vale, que eram de altíssima tecnologia na época, vinda do Projeto RADAM (Radar na Amazônia), que os americanos possibilitaram como meio de investigar o subsolo da região. Com isso fotografaram o país todo, inclusive o Sudeste.

                        Eram fotografias muito detalhadas, que eles observavam com aparelhinhos que, depois, fiquei sabendo ser do tipo que os ingleses inventaram na Segunda Guerra Mundial para ver os relevos das fotos tiradas por aviões espiões, aqueles mesmos aparelhos que são constituídos de lentes montadas em hastes formando um quadrado de apoio.

                        Eu não tinha nada disso, mas das rápidas olhadas que pude dar pensei ter visto um círculo bem grande. Muito depois, num outro mapa que não pude alcançar, tendo isso em mente medi um círculo com 600 km de diâmetro bem em cima da região onde agora fica Governador Valadares (coordenadas: 18º 54’ S, latitude, e 41º 55’O, latitude), em Minas Gerais.

                        Isso daria uma área de (com 300 km de raio) 300 mil km2, por aí. Imenso. Eu pensava ser um vulcão e isso reteve a minha imaginação, não me levando a aprofundar o assunto, porque onde é que haveria um vulcão des’tamanho (como diz o povo)? Impossível, pensei, e não fui adiante.

                        Mais tarde vim a saber que existem vulcões de todo tamanho, dos micros, pequenos, médios e grandes até os gigantescos. Estes são três em terra, daí eu calcular que devem ser nove a doze no total (visto que as terras emersas correspondem a 30 % da superfície da Terra; se tomarmos como 25 % serão 12, se como 30 %, nove).

                        Os gigantes têm, segundo dizem, 100 x 60 km, o que é muito, mas não chega nem perto desse que imaginei ter visto. O que seria, então? Mais recentemente cheguei à conclusão de que teria sido o meteorito que deflagrou a separação de Gondwana em duas porções, África para cima e para a direita, América do Sul para baixo e para a esquerda, há 200 milhões de anos. Pois é certo que um meteorito deu fim à aventura dos dinossauros, há 65 milhões de anos, tendo caído ao largo da Península de Iucatã, no México, com 10 a 16 km de comprimento. Como abrem crateras de dez vezes ou mais suas dimensões, esse do Brasil teria tido 60 km, e seria muito mais poderoso que o outro, pois extinguiu 99 % da vida terrestre, enquanto o outro acabou com 70 %.

                        Caindo, provocou uma onda de vulcões imensos em todo o mundo, terremotos formidáveis, ondas fantásticas em altura (que deram volta na Terra várias vezes) e iniciou a migração dos atuais dois continentes.

                        Reparando bem, não poderia ser um vulcão PORQUE o Brasil é um cráton, uma região primordial, que vem desde as origens, bilhões de anos atrás, andando o Planalto Brasileiro em paralelo com o Planalto das Guianas (deviam estar ligados por baixo do páleomar, como estão hoje, na Placa da América do Sul). Em crátons não surgem vulcões nem acontecem terremotos significativos.

                        Se segue que, se existe mesmo, é um buraco feito por meteorito. Não tenho acesso agora a mapas bons, de modo que fica o lembrete.

                        Vitória, segunda-feira, 22 de julho de 2002.

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