Nossos
Netos
Está no livro de Hubert
Reeves, Um Pouco Mais de Azul (A Evolução Cósmica), São Paulo, Martins Fontes,
1986.
Logo a Martins Fontes!,
que a gente respeita tanto.
No capítulo 7, O
Futuro da Terra, p. 117 e ss., em especial na página 119, sob o título Reanimar
o Sol Enfraquecido, o autor se preocupa com o que acontecerá com nossa
estrela daqui a cinco bilhões de anos, quando, segundo os cientistas, o Sol
terá queimado seu combustível e “morrerá”, quer dizer, se expandirá primeiro,
ejetará suas camadas exteriores, contrair-se-á até tornar-se uma anã branca e
depois uma anã negra, e diz: “Às vezes me surpreendo preocupado com nossos netos futuros, que viverão este
período crítico da morte do Sol”, negrito meu.
Nós nos perguntamos se
lemos certo.
É isso mesmo, cinco
bilhões de anos?
Depois de ler
repetidamente fica a certeza de que ele disso mesmo 5.000.000.000 anos. Não 5,
50, 500, 5.000, 50.000 (tempo da espécie humana na Terra), nem 500.000, nem
5.000.000 (mais do que o tempo dos hominídeos), nem 50.000.000, nem 500.000.000
de anos (que recua para perto da chamada “explosão Cambriana” da irradiação da
vida superior), mas cinco bilhões, mais que os 3,8 bilhões de anos da primeira
vida, mais que os 4,5 bilhões de anos da existência da Terra, mais que os 5,0
bilhões de anos de criação do Sol.
E ele não se preocupa,
apenas, ele propõe soluções:
1) “(...) uma migração
para outros planetas mais distantes do Sol. Dois satélites de Júpiter,
Ganimedes e Calisto possuem importantes reservas de água (...)“. Veja que seria
uma migração em massa, agora seis bilhões de pessoas. Se não conseguimos enviar
sequer uma, como faríamos com seis bilhões? O futuro certamente proporcionará
todas as soluções.
2) “A segunda solução
consiste em deslocar a Terra inteira e mantê-la a uma distância sadia de nosso
Sol ameaçador”. A Terra tem massa de 5,98.1024 kg, ou
5.980.000.000.000.000.000.000.000 kg. Parece pouco, para ele.
3) “Felizmente, existe
uma terceira solução, muito mais difícil, mas também de muito maior duração. É
a reanimação do Sol, no mesmo sentido em que se reanimam os corações
enfraquecidos (esquema 7)”, e sugere então ou a colocação de bombas nucleares
ou o envio de um feixe de laser. Porém, modestamente, refere que não sabe como
o Sol não vaporizaria os artefatos. Nos consola dizendo que o Sol, com essa
providência, poderia viver mais dez a 100 bilhões de anos, se os cinco que se
passarão até ele explodir não bastarem à humanidade vindoura.
É impressionante demais.
Estamos pensando como
passar ao próximo ano, ou chegar a 2040, ou um pouco além, e eles fala em
cinco, dez, 100 bilhões de anos.
As culturas têm pequeno
rendimento, assim como tudo na Natureza. É preciso pagar um preço entrópico
pela sobrevivência, a ineficiência, a par da eficiência de conversão. Alguma
fração da humanidade mergulha no imponderável, no suspeito, na esquisitice.
Contudo, depõe a favor
da civilização o fato de que certas coisas são toleradas e todo tipo de
manifestação poder acontecer, sem maiores transtornos. Pode-se falar quase
tudo, gastar tempo, espaço, recursos, riqueza, sem causar tremor mais demorado
em ninguém.
Esse é o valor maior da
coletividade cristã, a tolerância.
As pessoas mais doidas
do mundo encontram abrigo e podem falar as asneiras que quiserem, podem
consumir nosso tempo com doideiras sem serem repudiadas a fundo. As coisas
simplesmente são deixadas a morrer nalgum canto, como nesse livro.
Uma importante editora
deu chance de publicação a essa pessoa, para que ela tivesse oportunidade de falar
sandices. Não 50 mil anos, que é o tempo atual de existência da humanidade, mas
100 mil vezes isso. Se você contar uma existência inteira da humanidade a cada
segundo, 3.600 por hora, levará cerca de 28 horas, mais de um dia inteiro, para
chegar a esse tempo. A história toda chega a no máximo 3,5 mil antes de Cristo,
de modo que ainda vamos a caminho de atingir os primeiros seis mil anos de
escrita!
É um espanto, mas é um
anúncio maravilhoso, assombroso, das alturas a que o cristianismo permitiu a humanidade
chegar, especialmente o Ocidente, em termos de aceitação alheia.
Vitória, segunda-feira,
27 de maio de 2002.
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