Sunday, November 03, 2013

Os 2,5 % (da série Expresso 222..., Livro 4)


Os 2,5 %

 

                        Da Curva de Gauss (ou Curva do Sino), da margem estatística de erro de 5,0 %, da soma zero 50/50 do modelo, da visão polar dos opostos/complementares e do triângulo bipartido em sombra e luz tirei a idéia de que 5 % da esquerda e 5 % da direita, cada lado com 2,5 % atrai os restantes 47,5 % que lhe estão próximos.

                        Os resultados disso são vários.

                        Olhando cada par de opostos/complementares, por exemplo, argúcia e seu antônimo inépcia, poderemos ver que 2,5 % de cada conjunto serão necessariamente argutos, astutos, perspicazes, finos, espertos, inteligentes, atilados, sutis – mas isso não é somente favorável, é desfavorável também.

                        Olhando verdade e mentira, 2,5 % dos seres humanos vão mentir sempre, em qualquer situação, independente de precisarem ou não, enquanto 2,5 % não mentirão em hipótese alguma, ainda que a situação seja de permissividade total. Cada extremo desses e seus cooptados lutará com o outro extremo e seus aderentes, criando o ciclos. Num determinado instante até 97,5 % estarão de cada lado, o outro lado ficando acossado, sem, no entanto, desaparecer. Sob tão extraordinária pressão o lado atacado inventará soluções novas e começará a amealhar adesões, mudando o sim em não, conforme a dialética. Depois o não será mudando em sim-renovado, e daí segue.

                        Então, num período em que haja extremado livre-arbítrio sexual, licenciosidade, o período seguinte será de puritanismo, de contenção quase absoluta. A geo-história e toda a Psicologia devem ser vistas por essa ótica.

                        A Psicologia (psicanálise/figuras, psico-síntese/objetivos, economia/produção, sociologia/organização e geo-história/espaçotempo) é uma continuada demonstração disso. Em Economia (agropecuária/extrativismo, indústrias, comércio, serviços e bancos), uma época de privatizações (superprivado) será seguida de outra de estatizações (superpúblico). Se segue que a onda de privatizações iniciada por Margareth Thatcher na Grã-Bretanha e seguida no mundo inteiro, quase, inclusive no Brasil, será irremediavelmente secundada por outra onda planetária de estatizações. É fatal.

                        Quanto mais aguda for uma tanto mais o será a outra.

                        Resulta disso que sempre podemos esperar encontrar esses 1/40 ou 2,5 % em todos os pares de opostos/complementares.

                        Sempre 2,5 % de histéricos, 2,5 % de comilões insaciáveis, 2,5 % de covardes, 2,5 % de meigos e assim por diante, em tudo que o dicionário nos apresentar. E 2,5 % terão todas as qualidades reunidas. Só que o modelo diz que esses 2,5 % “perfeitos” na realidade vão exigir muito dos demais e que eles não são efetivamente totalmente bons. Só 2,5 % deles serão definitivamente imaculados.

                        Se os 2,5 % licenciosos levam 95,0 % ao seu encontro, a esse domínio seguir-se-á extremo aprisionamento sexual antilibidinoso, antidevasso, de condenação quase absoluta da sexualidade, o que é também ruim, pois muito = MORTE, na Rede Cognata. Os supostamente puros castigarão fortemente os outros todos, começando pela cooptação dos seus 47,5 %, fazendo-os retornar à “retidão”. SE conseguirem os outros 47,5 % acabarão por implantar o terror antissexual.

                        Enfim, os extremos custam muito, de qualquer modo. Tanto o excesso quanto a ausência de sexo são daninhas.

                        O melhor seria se conseguíssemos ficar totalmente longe disso.

                        Contudo, já sabemos que em 2,5 % do tempo isso será impossível; e que nos 2,5 % que forem realizáveis nada lucraremos com a possibilidade. Então, devemos nos contentar com a moderação. Nem um extremo nem outro, nem sequer fazer força para que não seja nem um nem outro, sabendo que fatalmente em algum momento e lugar um ou outro predominarão em ciclo, levando a oscilações tremendas.

                        Seria verdade, essa coisa?

                        Por que razão o universo seria modelado dessa forma?

                        Vitória, segunda-feira, 24 de junho de 2002.

                       

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