Pedagogia
do Interesse
Foi Paulo Freire quem,
primeiro nos tempos contemporâneos, redescobriu isso que chamei aqui de
pedagogia de interesse, de ver o lado de quem quer aprender, em lugar de
empurrar matéria. É claro que do lado contrário/complementar a chamada Escola da Vida prima justamente por
isso, a pessoa (indivíduo, família, grupo e empresa) indo em busca do que lhe
interessa mais de perto, das suas vontades egoístas, enquanto a Vida da Escola é de ausência, do
absenteísmo de si, da alienação.
Quase todo mundo sabe
disso, não teórica mas praticamente (menos os intelectuais, é claro).
Paulo Freire prometeu às
pessoas que elas falariam daquilo mesmo com o quê conviviam, aquelas coisas
próximas, do dia-a-dia, em lugar de treinarem alegremente para serem servos da
burguesia. Porisso em toda parte, mesmo entre os dominantes, sua mensagem foi
vencedora.
Denominei a essa
possibilidade Contemporanização da
Educação, trazê-la para a atualidade, em lugar de ela ser, como é agora,
avançadíssima para 1600. A Escola da
Vida é interessantíssima mas inócua, inofensiva, enquanto a Vida da Escola é chatíssima mas
proficiente, competente.
Por que os educadores e
os governempresas não são capazes de dar às pessoas aquilo que interessa a
elas? São sempre coisas forçadas, feitas para domesticar o povo até certo ponto
e as jovens elites, futuros dominadores, até o final. Desde o começo do domínio
da burguesia ensina-se sempre a submissão, quando o lucro seria muito mais bem
servido se as pessoas todas se tornassem grandes, e elas mesmas. Como é feito,
um monte de cabrestos é posto e todo mundo fica muito mais conformado, não
expandindo suas potencialidades ao máximo. Devem desenvolver as potencialidades
alheias, nas quais elas não são aptas.
Que interesses cada criança
em sala tem?
Antes não seria possível
facilmente atender todas as expectativas, porém com a Internet e a restante
mídia contemporânea, sim. Agora é e será cada vez mais. Então, que estamos
esperando? O mundo tristíssimo que foi criado, com bilhões sofrendo a angústia
contínua das imposições, ao passo que há interesses inumeráveis esperando em
cada esquina.
Se os professores
ensinassem com base nesses interesses, que aconteceria? Muito provavelmente uma
revolução. É claro que o mundo deve continuar girando e os substitutos dos
futuros mortos devem ser preparados, de modo que uma parte do dia pode e deve
ser reservada para tal. Na outra metade os alunos aprenderiam coisas da
existência comum, todos os milhares de coisas interessantíssimas, cativantes.
De 7 às 12 Vida da Escola, das 13 às 18 Escola da
Vida. Adivinhe qual terá maior freqüência e vibração! De manhã a
obrigação para com o coletivo de produção, de tarde a satisfação consigo mesmo.
Do jeito que vamos não existe harmonia, não há soma zero, e sim uma
descompensação em favor do obrigatório, do imperativo, do forçoso, até do
vexatório, do opressivo, do humilhante, do impositivo, do que vem de cima para
baixo, do todo para a parte, sem a contraparte que iria de baixo para cima, da
parte para o todo. Essa descompensação está na base de todo o sofrimento
humano. Só coletivo pode exprimir-se e exigir, sem que o particular possa dizer
de si, de suas carências e necessidades: de amor, de companheirismo, de
identidade, de aplausos, de parceria, de amizade.
Só o interesse da Pedagogia é
preservado, sem a compensação da Pedagogia do interesse.
Só se faz valer um lado, sem a presença restabilizadora do outro. Não admira
mesmo nada que o mundo esteja um caco, um pedaço de estrume. Por toda parte só
choro, só depravação, só dor, só miséria do SER e do TER. Por todo lado
desencontro e desencanto, para uma Vida geral e uma Vida psicológica tão belas.
É hora de alterar as
coisas.
Chegou o tempo de povoar
o universo humano de belezas.
Vitória, quinta-feira,
18 de julho de 2002.
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