Sunday, November 03, 2013

Picaretagem Governamental (da série Expresso 222..., Livro 3)


Picaretagem Governamental

 

                        Já descrevi, em O Desastre Maxista, como o ex-governador Max Mauro, no resto honesto, implantou com apoio da Assembléia Legislativa do ES a chamada “lei da trimestralidade”, que a cada três meses devolvia só 60 % da inflação galopante do período, quando esteve lá no Palácio Anchieta, de 1987, 15 de janeiro (como era antes da promulgação da constituição federal de 1988) a 1990, 31 de dezembro. Quer dizer que a cada três meses ficava com 40 % do funcionalismo, a menos que isso fosse negociado, chegando a no máximo o que a pessoa já teria direito, 100 %.

                        Em março e junho, duas trimestralidades, nem os 60 % ele devolveu, de modo que o funcionalismo todo entrou contra o governo do ES, resultando num acumulado de perto de 162 %. Isso significou na soma muitos bilhões de reais.

                        A minha parte, até onde calculado, chegou (erradamente, pois deve ser quatro ou cinco vezes isso; não sei se entro de novo contra o governo patrão porque isso levaria o estado-governo à inadimplência) a R$ 100 mil. Nas origens o imposto de renda (IR) ficaria com 27,5 % na minha faixa de renda, o IPAJM (Instituto de Pensão e Aposentadoria Jerônimo Monteiro, nossa caixa de seguro social) com 10,0 %, somando, portanto, 37,5 %, restando 62,5 %.

                        Tendo entrado na Justiça, mais 10,0 % irão para os advogados, 15,0 % para o Tribunal de Justiça, 1,5 % para o Sindifiscal, restando 36,0 %, perda de 26,5 %.

                        Além disso, o governo, dizem, sob ameaça de intervenção do Supremo Tribunal (em 23 dos 26 estados – mais o DF), prometeu pagar em dez anos, 120 prestações (naturalmente sem juros nem correção monetária – que a 0,5 % ao mês pode somar no final 82 %), que no meu caso serão de R$ 300/mês, quando deveriam chegar a perto de R$ 520/mês (para os 62,5 %, lembre-se).

                        Considerando os juros (na realidade a inflação) de 0,5 % ao mês, as prestações deveriam passar de R$ 300 a R$ 400 por mês, uma perda de R$ 100 por mês, do jeito que vai ser pago, no total R$ 12 mil em dez anos. Se fossem juros de 0,5 % + 0,5 % de inflação, total de 1,0 % ao mês, a prestação mensal iria a R$ 516, diferença de R$ 216, no total R$ 26 mil em dez anos, um carro muito bom.

                        Tudo fica por nossa conta.

                        O atual governador, José Ignácio, pegou 20 % nossos durante vários meses, ficando devendo três meses inteiros de salário. Quando foi obrigado pelo Supremo a parar de descontar e a devolver, dividiu em trinta e seis meses, também sem juros nem correção monetária. O BANESTES, Banco do Estado do Espírito Santo S.A., de que o governo possui mias de 90 % das ações, decidiu nos emprestar dois meses de salário. Peguei (fora a pensão) R$ 4,2 mil e devo pagar em 36 meses mais de R$ 10 mil, juros de R$ 5,8 mil, de que o governo ressarcirá R$ 1,4 mil, o banco engolindo R$ 4,4 mil.

                        E assim a coisa vai de vento em popa, todos felizes em governar a infelicidade alheia, como é trivial no ES.

                        Essa é a tremenda picaretagem política capixaba, que, creio, não tem paralelo nem no Brasil nem muito menos no mundo, onde por muito menos teria fritado alguns.

                        Vitória, quinta-feira, 06 de junho de 2002.

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