Saturday, November 02, 2013

Quem Manda no ES? (da série Expresso 222..., Livro 2)


Quem Manda no ES?

 

                        Lá por volta de 1975 Sebastião de Oliveira (filho de Maurício de  Oliveira), o Tião e eu debatíamos quem mandava no ES. Concordamos então que seriam umas vinte famílias. Passadas quase três décadas os figurantes mudaram um pouco, mas a quantidade deve seguir mais ou menos a mesma.

                        Devido ao fechamento para as preciosas e ocultas Minas Gerais, o Espírito Santo só foi mesmo aberto em 1975, com a inauguração completa da BR 101. Até então agradecíamos ao Rio de Janeiro sermos aceitos como província daquela metrópole.

                        Com a vinda das grandes empresas, no governo de Arthur Carlos Gerhardt Santos, fiquei imaginando como aquelas famílias e grupos econômicos/sociais seriam deslocados pelos recém-chegados. É claro que houve um acordo, com delimitação de áreas, aparecendo algumas e desaparecendo outras famílias, mas o estado continua dependente e sem identidade própria.

                        Continua província.

                        A diferença que há, com relação a mim, é que elaborei o modelo e posso enquadrar tudo mais largamente.

                        Por exemplo, a Psicologia do ES: quem são as figuras mandantes, que objetivos são tidos como fundamentais pelas classes tenentes, qual é a produção/economia aceita como relevante, que organização/sociologia é acolhida como proeminente, que geo-história é a oficial? E o Conhecimento do ES: Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática - quem o conduz? A seguir perguntemos do Governempresa do ES: quem manda no Estado-governo e quem dirige as empresas?      Especialmente, em poder de quem está a Economia do ES: a agricultura/extrativismo, as indústrias, o comércio, os serviços e os bancos? E a Tecnarte do ES: da visão (pintura, prosa, poesia, moda, dança, fotografia, desenho, etc.); da audição (música, discurso, etc.); do paladar (comidas, bebidas, pastas, temperos, etc.); do olfato (perfumaria, etc.); do tato, sentido central (cinema, teatro, esculturação, tapeçaria, urbanismo, paisagismo/jardinagem, decoração, arquiengenharia, etc.)?

                        A resposta é que, como sempre, em poder das mesmas famílias, com raras penetrações dos “adventícios”, dos estranhos, dos forasteiros, dos estrangeiros, digamos os imigrantes que vieram primeiro, há 150 anos ou mais, e os que vieram depois, desde 120 anos atrás. Os pretos nem pensar, são raríssimas as exceções. Entretanto eles já estão aqui há séculos.

                        Não creio que exista um estado mais fechado que este.

                        No mundo devem ser poucos, se é que existem, os lugares em que a liberdade de ascensão seja mais rigidamente controlada e obstada que aqui. Só, talvez, na Índia, com o nojento sistema de castas de lá.

                        O crescimento que é permitido é o absoluto, quantitativo, ou seja, a multiplicação das condições de vida: ter mais um televisor, adquirir um carro, comprar uma casa.

                        O crescimento qualitativo, relativo, de poder orientar as formas de desenvolvimento, o modo de pensar, a visão de mundo, tudo que signifique políticadministração dos rumos do porvir, isso está completamente fora de cogitação, é inteiramente vedado, fechado, cerrado, tapado, proibido, reprimido, interdito.

                        Aconteceu que, em três décadas, a coisa toda só foi refinada. Ainda existe um monopólio (sequer oligopólio) de fundo português, uma conspiração silenciosa, como aquela que Max Weber denunciou nos EUA.

                        Tudo que, minimamente, possa desviar os rumos definidos ou deliberados é prontamente recusado e abafado.

                        Vitória, segunda-feira, 13 de maio de 2002.

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