Quem
Manda no ES?
Lá por volta de 1975
Sebastião de Oliveira (filho de Maurício de Oliveira), o Tião e eu debatíamos quem mandava
no ES. Concordamos então que seriam umas vinte famílias. Passadas quase três
décadas os figurantes mudaram um pouco, mas a quantidade deve seguir mais ou
menos a mesma.
Devido ao fechamento
para as preciosas e ocultas Minas Gerais, o Espírito Santo só foi mesmo aberto
em 1975, com a inauguração completa da BR 101. Até então agradecíamos ao Rio de
Janeiro sermos aceitos como província daquela metrópole.
Com a vinda das grandes
empresas, no governo de Arthur Carlos Gerhardt Santos, fiquei imaginando como
aquelas famílias e grupos econômicos/sociais seriam deslocados pelos
recém-chegados. É claro que houve um acordo, com delimitação de áreas,
aparecendo algumas e desaparecendo outras famílias, mas o estado continua
dependente e sem identidade própria.
Continua província.
A diferença que há, com
relação a mim, é que elaborei o modelo e posso enquadrar tudo mais largamente.
Por exemplo, a
Psicologia do ES: quem são as figuras mandantes, que objetivos são tidos
como fundamentais pelas classes tenentes, qual é a produção/economia aceita
como relevante, que organização/sociologia é acolhida como proeminente, que
geo-história é a oficial? E o Conhecimento do ES: Magia/Arte,
Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática - quem o
conduz? A seguir perguntemos do Governempresa do ES: quem manda no
Estado-governo e quem dirige as empresas? Especialmente,
em poder de quem está a Economia do ES: a agricultura/extrativismo, as
indústrias, o comércio, os serviços e os bancos? E a Tecnarte do ES: da
visão (pintura, prosa, poesia, moda, dança, fotografia, desenho, etc.); da
audição (música, discurso, etc.); do paladar (comidas, bebidas, pastas,
temperos, etc.); do olfato (perfumaria, etc.); do tato, sentido central
(cinema, teatro, esculturação, tapeçaria, urbanismo, paisagismo/jardinagem,
decoração, arquiengenharia, etc.)?
A resposta é que, como
sempre, em poder das mesmas famílias, com raras penetrações dos “adventícios”, dos
estranhos, dos forasteiros, dos estrangeiros, digamos os imigrantes que vieram
primeiro, há 150 anos ou mais, e os que vieram depois, desde 120 anos atrás. Os
pretos nem pensar, são raríssimas as exceções. Entretanto eles já estão aqui há
séculos.
Não creio que exista um
estado mais fechado que este.
No mundo devem ser
poucos, se é que existem, os lugares em que a liberdade de ascensão seja mais
rigidamente controlada e obstada que aqui. Só, talvez, na Índia, com o nojento
sistema de castas de lá.
O crescimento que é
permitido é o absoluto, quantitativo, ou seja, a multiplicação das condições de
vida: ter mais um televisor, adquirir um carro, comprar uma casa.
O crescimento qualitativo,
relativo, de poder orientar as formas de desenvolvimento, o modo de pensar, a
visão de mundo, tudo que signifique políticadministração dos rumos do porvir,
isso está completamente fora de cogitação, é inteiramente vedado, fechado,
cerrado, tapado, proibido, reprimido, interdito.
Aconteceu que, em três
décadas, a coisa toda só foi refinada. Ainda existe um monopólio (sequer
oligopólio) de fundo português, uma conspiração silenciosa, como aquela que Max
Weber denunciou nos EUA.
Tudo que, minimamente,
possa desviar os rumos definidos ou deliberados é prontamente recusado e
abafado.
Vitória, segunda-feira,
13 de maio de 2002.
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