Saturday, December 14, 2013

Qualivida (da série Material Sensível, grupo Praças Psicológicas)


Qualivida

 

                               Venho seguindo essa trilha que já foi posta em prática de certo modo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro desde há 30 anos como cópia de algo que começou na Inglaterra há 60 anos ou mais.

                               Mas não é do mesmo jeito, nem estou copiando.

                               Aqui seria, digamos, um pináculo inexpugnável no meio do terreno, com grande defesa em baixo, de tal modo que as pessoas pudessem estar totalmente defendidas para dormir. Neste prédio teríamos quatro apartamentos por andar. Em outros, com metade da altura, dois por andar. Num terceiros grupo, com um quarto da altura do primeiro, um apartamento por andar. Um quarto grupo de construções seria de casas e um quinto de mansões imensas, de forma que teríamos só ricos A, B, C, D, E, quer dizer, AA, AB, AC, AD, AE, todos ricos que partilhariam o ambiente imenso, quatro ou cinco alqueires de lagos, riachos, morros e montanhas, parque, praças, ruas e avenidas, áreas com brinquedos, ginásios, áreas de Cooper, matas cerradas, observatórios, salas de jogos, clubes comuns, capelas, salas de conferência, teatro, cinemas, conchas acústicas, música de câmera, etc.

                               Em resumo, o que estaria sendo vendido pela QUALIVIDA seria qualidade-de-vida focada por essa firma de construção civil POR CONCEITO.

                               Uma comunidade de quatro mil pessoas, com duas mil crianças PARA AS QUAIS ESTARIA SENDO FEITO O CONDOMÍNIO.

Não se dirigiria aos adultos e sim às crianças.

Os adultos herdariam o sistema, sendo felizes também ou até mais que antes porque com toda certeza a comunidade contrataria pesquisadores do Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) para trabalhar a questão de uma qualidade de vida simples, distinta, mansa e extremamente digna que só a alta riqueza pode realmente pagar.

As pessoas, desde o começo, não deixariam entrar ou fariam todo esforço para afastar os indesejáveis, sempre suspeitando do que seja “normal”, quer dizer, suspeitando de si mesmos e de normalidade demais.

                               Como sempre, a idéia é ir para a periferia, mas não à americana, do modo como lá nos EUA as casas muito bonitas e sem cercas isolam as pessoas. O CONCEITO DE COMUNIDADE é que embasaria tudo. O que é preciso para construir uma comunidade 24 horas, isto é, que viva as 16 horas de vigília da gente comum e tenha divertimento também para quem vive por preferência ou obrigação à noite?

                               Vitória, domingo, 16 de maio de 2004.

                  

No comments: