Par Lamento

 

Era um desses odiosos, nojentos “casaizinhos 20”, 100 % mais 100 %, essas merdas, ficavam naquela coisa melosa “só vou se você for”, “ se você não for não tem graça, o mundo perde a cor sem você”.

Meu Deus! Que coisa aborrecida, tediosa.

O pessoal buscava evitar, “lá vem o par”, alguém corria para pagar a conta sozinho, depois dividiriam, se ainda restava metade da porção de camarões VG alguém engolia ligeirinho, se havia moqueca nego levava a panela de barro (teve uma vez que queimou, ela conserva o calor, você sabe, o cara deixou cair, quebrou, o jeito foi pagar o prejuízo, o pessoal reclamou da conta, mas todo mundo compreendeu), uns corriam para o banheiro, outros fingiam que a mulher estava chamando ao telefone – lá vinha meleca.

Já que eram “tão perfeitos”, por comparação com eles nada prestava, viviam reclamando de todos e de tudo, metiam a lenha, sentavam o pau. E como era o casalzinho 20 ou 200 %, o que não faltava era assunto. Não que separadamente não fossem interessantes, de jeito nenhum, antes de ele se juntar a ela era bem aceito na turma, depois é que ficou meloso, afetado, só tinha olhos para ela, ela isso, ela aquilo, é a maioral, ficava se repetindo, perdeu o cérebro, logo ele que tinha umas abordagens fenomenais, ficou lelé, perdeu a chama, o brilho, só dizia “meu amorzinho”, “minha querida”, “meu docinho de abóbora com coco”, puta merda!

Quem guenta uma coisa dessas?

Parecia que estava escorrendo, de tão açucarado.

O pessoal foi saindo fora, uma desculpa aqui, outra ali, a gente via que tinham sido bem preparadas, impecáveis, totalmente convincentes, se a gente não soubesse que era mentira poderia tomar como verdade.

O par.

A gente pensou em cometer par-icídio, matar o par, embora ambos fossem amigos, ela esteve fora do país, voltou, encontrou ele, podia ter ficado por lá, perdemos ótimo amigo.

E como ficavam reclamando o tempo todo, só eles que eram perfeitos, passamos a chamar de par LAMENTO, reclamavam demais, vixe! Choradeira, parecia político que não tinha sido eleito, tendo empatado tanto dinheiro, sem ter como recuperar roubando da prefeitura. Lamúrias.

E com isso de ficarem falando mal de todo mundo, tudo foi dando errado para o PAR LAMENTO, todo mundo falava mal, diziam que estavam participando das roubalheiras do PETÊ, algo de deplorável mesmo. No Brasil o Par Lamento era mal falado de cima abaixo, da esquerda à direita, em toda parte, caiu na boca do povo, caiu na boca do corvo.

Eu? Pulei fora, claro, sou criança?

Serra, sexta-feira, 15 de janeiro de 2016.

GAVA.