Wednesday, June 12, 2013

Achados e Perdidos (da série Conto Tudo Novo)

Pela lógica deveria ser “perdidos e achados”, porque ninguém acha o que não foi primeiro perdido, mas como tudo no Brasil aqui também reinava o caos mental, a incapacidade lógica, o desrespeito pelo pensar, pela pesquisa, pelo estabelecimento de fatos firmes na geo-história e nas tecnociências, enfim, de todo o conhecimento. Esquerda achava que seu lugar era na direita.
Reclamar a quem?
Os Achados zombavam dos Perdidos.
- Vocês estão ao contrário.
Ao que os Perdidos respondiam com a mesma coisa.
- E vocês, seus idiotas, que se acham especiais, estão onde os colocaram, como todo mundo, sem saber de quê nem para quê.
Estar do Avesso no Brasil não era incomum, pois o governo ajudava muito.
No intimamente chamado “apartamento” (pois AP passava por ser abreviatura) ou também “apertamento”, pois eram colocados de qualquer jeito.
No apertamento se achava aquele do qual foi dito “estava perdido e foi achado”. Também aqueles preocupados com qualquer coisa “estou perdido, estou perdido”. Os que tinham embarcado em Erradas, as linhas que levavam a becos-sem-saída: eram de graça, mas também chegavam a lugares de onde você não podia sair, como certos investimentos inúteis dos governos, tudo Perdido. Até crianças havia ali, os Perdidinhos: “tô perdidinho, cara, tô perdidinho”.
Por outro lado, havia aqueles que se encontravam Perdidos, mas foram Achados. Achavam que eram uma coisa, mas eram outra, inversão de personalidade.
Havia no Brasil gente que mentia muito, acabavam ficando Perdidos, enredados em suas próprias mentiras. Havia políticos Totalmente Perdidos em suas tramas, esses ficavam escondidos, procurando não dar muito as caras porque não queriam ser Achados.
- Aí, hem, mudou de lado, virou prostituta arrependida, agora está entregando os irmãos.
Além dos traumatizados verdadeiramente havia aqueles que eram os hipocondríacos dentre os Perdidos, achavam que estavam Perdidos, mas não estavam, choravam de barriga cheia: muitos ricos se encontravam ali, nunca estavam satisfeitos. E havia o pessoal espantadíssimo, permanentemente deslumbrado com sua própria esperteza, que dizia: “foi um Achado”, mas estava mais Perdido que cego em tiroteio.
Muitas vezes se dizia que o Brasil “estava à beira do abismo”, mas ele só estava Perdido porque, sendo cego, o cachorro dele, o Governo, não sabia o que fazia, frequentemente levava-o para lá.

Enfim, se fôssemos falar de tudo que havia por lá nem em mil livros acabaríamos.


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