Wednesday, June 12, 2013

Carteira de Trânsito (da série Conto Tudo Novo)


                       Com o avanço da vigilância, as câmeras se espalhando por toda parte, os governantes desocupados inventaram a “carteira de trânsito”; não era carteira de motorista, para quem queria dirigir carro, era carteira de trânsito mesmo, só se podia transitar com ela. Era mais que carteira de identidade, pois esta só é mostrada aos representantes da autoridade da lei quando eles as pedem.
Não, a CT tinha de ser apresentada a qualquer momento.
Como saber se você era brasileiro?
Como você provaria que estava dentro da lei?
As câmeras te vigiavam, você já era de partida suposto errado: “calado você já está errado” não era só mote, virou norma e foi incluído na constituição em sua milésima octogésima terceira edição depois de 1988.
De qualquer modo, o IDH (Índice de Humanização) dos brasileiros era extremamente baixo, os governantes só cuidavam de roubar e esqueciam-se de promover a nação. O IDH foi caindo estrondosamente, o Brasil ficou lá na rabeira, depois de 77 em 196. Arre! A CT só vinha confirmar os números.
Ademais, as placas eram escritas em sua grande maioria em outras línguas, mormente o inglês – você nem sabia mesmo qual era sua língua.
Tudo apontava para a desconfiança. A insegurança era total, não se podia sair de noite, havia automaticamente toque de recolher imposto pelos bandidos, que eram os governantes: de seis da noite às seis da manhã, só ficando em casa.
Como saber se você era trabalhador?
Exibindo a CT!
Que era verde, daí a mania de dizer “folha verde aí”.
Como saber se você tinha votado de dois em dois anos (gastando-se aquele dinheirão do povo sempre bobo para financiar as eleições, que custavam muito)? De modo nenhum poderia ser de quatro em quatro anos, pois o povo perderia os Valores Cívicos: Valor Cívico, depois de perdido é difícil de achar.
Como saber se você tinha votado?
Exatamente! CT. Folha verde aí.
Que se tornou eletrônica: se o agente apontasse o instrumento lá dele para você, pode crer, você tinha de levantar as mãos e com isso sua Folha Corrida era imediatamente vista. Como saber se você não era bandido? Pouco importava se os bandidos de Brasília e de outros lugares fossem só 0,5 %, contra o restante de 99,5 %, era mais fácil proceder assim.
Uma maravilha!
E o povo ficava pianinho, pianinho, era musical: Folha Verde Aí.
Ah, que povo bom, aceitava tudo. Aceitava todas as porcarias, desde que viessem dos governantes. Porisso FHCB de faustosa memória dizia que era fácil governar o Brasil.

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