Sunday, December 15, 2013

A Poderosa Memória das Mulheres (da série Material Sensível, grupo MCES Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens)


A Poderosa Memória das Mulheres


                   Do Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens despontou uma realidade muito maior do que a que vinha sendo displicentemente apresentada a nós durante todas essas décadas desde a descoberta das cavernas onde habitaram nossos antepassados, a partir de quando seus moradores espertíssimos passaram a ser chamados de “trogloditas” (no Aurélio Século XXI: Do gr. troglodytes, pelo lat. troglodyta. Adj. 2 g. 1. Que vive debaixo da terra ou em cavernas. g. 2.  Pessoa que vive sob a terra. 3. Membro de comunidade pré-histórica que habitava em cavernas; no Houaiss digital:   n adjetivo e substantivo de  dois gêneros relativo a ou indivíduo dos trogloditas, povos da África que habitavam em cavernas, em especial os habitantes da Troglodítica), com a conotação desprezível de atrasados, primitivos. Não eram, de modo nenhum, até porque não podiam ser, estavam no limiar do seu tempo, faziam o máximo de esforço, enfrentavam dificuldades espantosas com valentia e garbo.

                   Em especial, como já vimos repetidas vezes, os homens caçadores (machos e pseudofêmeas; num grupo pequeno havia pouquíssimas destas, se havia alguma, pois é estatístico – amas é interessantíssimo que a Natureza tivesse preparado essa válvula que não está superafirmada nas outras espécies) eram somente 10 a 20 %, enquanto as mulheres coletoras (fêmeas e pseudomachos) administravam o grupão de 80 a 90 % (logo para começar, 50 % de mulheres; 25 % de garotos; velhos, guerreiros em processo de cura, aleijados, anãos e anãs; cachorros de boca pequena, gatos e a criação inicial, fora a coleta e as plantações primitivas). Nas relações percentuais teríamos de (90/10 =) 9/1 a (80/20 =) 4/1, fora a posição de todas as árvores de frutas, de casca, de madeira, todos os locais de coleta de tubérculos, os rios e córregos das redondezas, as estações, as relações de dominância com a mãe dominante e seu grupinho, tudo que foi colhido e armazenado e assim por diante uma quantidade espantosa de dados a catalogar.

                   Assim sendo, a memória delas não é como a nossa, é muitíssimo mais poderosa, de um modo que não podemos saber. Logo para começar é mimética, imita a inteligência intuitiva dos homens, é o que chamei de inteligência-memória, a especialização que só existe em nossa espécie, porque as mulheres dominaram a humanidade pelo menos uns cinco milhões de anos durante a fase hominídea (de 10 milhões), durante a faixa dos nemay (neandertais de EMAY, Eva Mitocondrial + Adão Y) desde 200 mil anos passados e grande parte dos 80 a 70 mil anos dos cro-magnons, até que houve o assentamento nas cidades, a primeira das quais Jericó, de 11 mil anos atrás. Talvez elas tenham começado a perder o poder quando aceitaram (e foram obrigadas a aceitar em vista do crescimento que introduziram, tendo mais filhos e fazendo-os sobreviver mais) sair das cavernas para as pós-cavernas, as pré-cidades e as cidades. Então os homens tomaram o poder, que tem no máximo algumas dezenas de milhares de anos.

                   Assim, nós homens não sabemos mesmo o que é essa memória.

                   Ela não se assemelha a isso que é o nosso “recordar”, a memória masculina, que é lembramento pobre e canhestro das coisas, memória como “coisa que se apresenta em um dado momento”, é muito mais – é essencialmente planejamento e conspiração, é vir de trás, estar agoraqui superantenada e ir para frente, é compromisso, é muita coisa que os pesquisadores descobrirão.

                   Não tem nada a ver com essa coisinha fraca do nosso lado.

                   É instrumento de sobrevivência da espécie para 80 a 90%.

                   É com isso que estamos lidando sem saber.

                   Vitória, domingo, 20 de março de 2005.

                   José Augusto Gava.

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