No Brasil falamos muito errado, porisso não sabemos
o que estamos fazendo. E não é só o povo, as elites também não sabem o que
fazem. Por exemplo, dizem “fazer a Europa”, embora a Europa já esteja feita há
muito tempo. E também “fazer o supermercado”, quando nitidamente os
supermercados a que vamos para fazer compras já estão feitos, é justamente
porisso que vamos lá fazer compras, seria melhor dizer “comprar”.
Os jornalistas do ES falam em “teto máximo” e “piso
mínimo”.
Certa vez achei que já éramos um país avançado, pois
vi uma placa de manicure que “fazia unhas”. Pensei, nossa, como estamos
adiantados, meu Deus, pois se antes só o corpo (nos dedos; aliás, corpo é muito
ajuizado, só faz unhas nos dedos, seria constrangedor nascerem unhas em outros
lugares, mas no Brasil tudo é possível) fazia unhas.
Entendeu minha emoção?
Se estávamos FAZENDO unhas, estávamos à frente dos
estrangeiros e isso numa lojinha de bairro, vixe, que avanço!
Entrei, perguntei, na realidade as unhas eram
pintadas, arrancavam as cutículas antes, faziam tratamento até primoroso.
Passei a valorizar mais as manicures e pedicuras.
Mas, não, decepcionantemente, não, não faziam unhas
propriamente, ainda não dominávamos a biologia do crescimento de unhas, como,
aliás, ninguém no mundo; pelo contrário, estávamos até atrás dos estrangeiros,
pois usávamos suas línguas e sabíamos pouco da nossa.
Percebi que as pessoas dizem “morador de rua”, o que
não pode ser, pois não existem moradas nas ruas. Comecei a reparar que as
pessoas falavam muito errado, tanto as do povo quanto as das elites, por
exemplo, advogados, que dizem “pra mim fazer”. Fiquei meio desnorteado, não
sabia qual era meu norte (nem sul, nem leste, nem oeste, nem centro – como isso
o Planalto Central estava totalmente perdido para mim, que desgosto).
No comments:
Post a Comment