- Boa noite.
- Noite?
- É, boa noite, em oposição a bom
dia.
- Dia? O que é dia?
- É quando há claridade.
- Claridade?
- Como explicar? Agora não estamos
vendo nada, certo?
- Certo.
- E se víssemos?
- Aonde você quer chegar?
- De que tribo você é?
- Efeméride. E você?
- Pernilongo.
EFEMÉRIDE (cuidadosamente) – Boa
noite, Pernilongo. Falei certo?
PERNILONGO – falou, sim.
EFEMÉRIDE – o que é noite?
PERNILONGO – tem o período de
não-ver, que é a noite, tem o período de ver, que é o dia. Dois períodos, noite
e dia são chamados também dia, é meio confuso. Entendi, você nasceu no começo
da noite, ainda não viu o dia.
EFEMÉRIDE – o que é dia?
PERNILONGO – tá vendo aquela luz lá
longe?
EFEMÉRIDE – o que é luz?
PERNILONGO – aquela coisa que brilha.
EFEMÉRIDE – o que é brilhar?
PERNILONGO – pare um pouco de
perguntar e ouça. Eu vivo oito ou nove dias, a tribo da Formiga vive três
semanas, uns 21 dias (duplos, dia e noite), minha mulher vive um mês, 30 dias.
O mosquito da dengue vive 60 dias, uma eternidade, muito longevo.
EFEMÉRIDE – nossa!
PERNILONGO – é, sim. A tradição da
minha família conta (mas disso não podemos dar prova, são só boatos) que o
gambá vive quatro anos.
EFEMÉRIDE – anos?
PERNILONGO (pensativo) – me deixe
fazer as contas. São uns 1.400 dias, eu acho, o que é evidentemente impossível,
pense só em alguém viver tanto tempo! É de rir, mas é o que contam, então estou
só passando adiante, acredite se quiser.
EFEMÉRIDE – Ra, Ra, Ra, é de rir
mesmo.
PERNILONGO (gargalhando) – também ri
demais, invenções para impressionar os jovens. Agora (fala baixinho), aqui para
nós, dizem que existem os eternos, que vivem 100 anos ou mais, pura
especulação, seria outra realidade, é demais para nossas cabecinhas. Quem
acreditaria em algo assim?
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