Era o primeiro show de Elvis em muito
tempo.
A amiga dela a convidou.
- Vamos? É no Ibirapuera.
- Não sei, pegar avião abarrotado, sei não.
E ele é bem antigo.
- Por isso mesmo, você só ouve no TV, no
rádio, no computador, no MP58, sei lá, nunca é ao vivo, nunca é cara a cara,
tudo muito artificial.
- E ele convence mesmo?
- Se convence, tá brincando? E eu já te
convidei pra alguma roubada? Ademais, podemos conseguir uns caras lá pro nosso
jogo.
- Bem, aí até que pode ser, preciso bater
uma pelada.
Foram, Elvis estava esfuziante, magrinho,
tanquinho, todo saradão, o clássico Elvis. Levaram a avó de Mariana e o avô de
Marquinho, um vizinho de Clarice.
- Caramba, o show tá legal demais. Nós
vamos bombar com os garotões.
- Não com esses dois a tiracolo.
- Cê tá brincando, quem não gosta de
netinha que cuida do avozinho? É só amor pra dar, tá no papo, já conversei com
um cara ali, ele trouxe a tia-avó.
- E aí, na hora do pega-pega, eles vão
ficar com quem?
- Fica fria, já combinei com o taxista.
Elvis arrasou mesmo. Duas horas e meia de
show de arrebentar os canecos, a velharada tava vibrando, sem falar que muitos
dos jovens, até menores acompanhados dos pais e das mães e mais o pessoal de
meia-idade, que gostaram das músicas antigas, puxa, foi demais.
Final do show um cara de 27/28 se
aproximou.
- E aí, gostaram?
- MUITO BOM. Bom demais. Onde eles encontraram
esse cara?
O garoto estava rindo à toa.
- Não foram “eles”, fomos nós.
Clarice ficou impressionada (que sorte).
- Vocês, fala sério!
- Nós mesmos, eu os o manos.
- Tem mais de você?
- Tem, vou ligar (ligou e o outro, que
estava na multidão mesmo, se chegou até o emissor de luz de sinalização).
- Alberto, Clarice, Mariana (nisso os avós
já tinham sido expulsos).
- Fala aí, gente.
- Iêba, dois pares. Não que foram vocês que
encontraram o Elvis?
- Foi, sim.
- É de que bairro?
Os dois estavam sorrindo, quase rindo,
parecendo que iriam ter uma crise de riso, que iriam gargalhar.
- Bairro nenhum, trabalhamos no Tatuapé ou
Tatu de ônibus, que ainda não temos carro nosso, só emprestado pelo pai, mas
vamos comprar. É uma firma muito boa.
- Então, descobriram ele no Tatuapé?
- Não, nós TRABALHAMOS LÁ.
- E trabalham no quê?
Apontam para o Elvis.
- São professores de ginástica.
- Não, trabalhamos NELE.
A luz se faz para as duas.
- Não é possível.
- É sim, inteirinho.
- Vocês FIZERAM ele?
- É claro que sim, das unhas aos cabelos.
- Caramba, não sabia que o Brasil tava
nessa. Já tinha ouvido falar, mas nunca no Brasil.
- Ham, vocês estão por fora, não só esse
daí, mas muitos políticos, muitos governantes são teleguiados tanto de dentro
quanto de fora.
- Rapaz, estamos admiradas (elas estavam
caidinhas, tavam no papo, caíram de boca aberta). Quanto custou?
- Bem, é um trabalho de mestrado, os professores
acompanharam e tudo, mas nós que fizemos, tivemos a ideia de reproduzir antigos
cantores, dançarinos, artistas, toda a gente das tecnartes. Não sabemos quanto
custou, é material do laboratório. Pensamos em alugar
para festinhas de aniversário, casamento, todo tipo de show. Se o Elvis
convenceu faremos muito mais, não é?
Mariana olhou para Clarice, que olhou de
volta estupefata (são esses dois, vamos pegar pra nós).
- Você trabalham numa indústria de robôs?
- Certíssimo, Robotrom.
- A Robotrom, AQUELA Robotrom?
- Não existe outra.
Nesse instante Elvis tinha descido à terra
para dar autógrafos.
- Vamos prum barzinho?
-Vambora.
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