Tudo que o Midas tocava virava ouro.
Você tinha se batido de tudo quanto
era lado, meditava na questão por meses, escarafunchava, revolvia, se
embaraçava, tudo virava um ninho de gato, seus miolos começavam a fundir – você
ia ao Midas, se fosse amigo dele, ela dava uma torçãozinha de nada no problema,
virava um tiquinho e a coisa toda brilhava sobre esse novo ângulo.
Caramba! Como ele fazia isso?
Ele era diferente mesmo.
Dos amigos e dos parentes não
cobrava nada, mas se você tivesse um mínimo de consciência, lembrando das
dificuldades que tivera e dos lucros e das facilidades proporcionadas pela
solução procurava retornar de alguma forma.
Era coisa estranha.
Não conseguia uma patente? Midas.
Não conseguir prever a bolsa? Midas.
Não sabia em que país investir?
Midas.
Tudo que ele tocava virava ouro mesmo,
metaforicamente primeiro e, logo em seguida, realmente, porque você enriquecia.
Dos estranhos e dos empresários
Midas cobrava, e não era pouco, bastante, mas sempre uma fração insignificante de
tudo que os conselhos dele significavam para os proponentes.
Que talento!
A fama dele se espalhou.
As pessoas vinham de longe consultar
o Midas. Não importa quão difícil fosse o problema, nem em que área: nos casos
mais difíceis ele pedia alguns dias para equacionar e lá vinha com as respostas
– os olhos brilhavam de satisfação, a capacidade dele era insólita. As pessoas
ficavam boquiabertas, de queijo caído, literalmente.
Ah, é? Como foi que não vi?
Rapaz, dois anos pensando errado,
tentando duzentos caminhos diferentes e não vi essezinho daqui, que coisa!
O mundo é grande, tem muita gente,
as pessoas vieram em número cada vez maior, foi preciso colocar agenda. Os
governos pressionavam, porque também precisavam de ajuda. De fato, ninguém
queria mais pensar, já que o Midas SEMPRE achava a solução. Se no começo se
embaraçavam DEPOIS DE TENTAR, agora já nem tentavam, tentavam chegar ao Midas.
Todo mundo vivia no bem-bom e o pobre do Midas se estourava totalmente.
Bem, qualquer corpo sobre-tencionado
acaba deteriorando e dando tilt. Com Midas não foi diferente. Ele foi
definhando, já não conseguia comer porque tudo que tocava virava ouro. Ele
tinha um dom que se mostrou uma maldição. Midas acabou por morrer.
Agora o mundo tinha um problema
duplo: já não tinha Midas para resolver e já não se esforçava por si mesmo.
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