Como seria o carnaval de 2047?
As pessoas não querem mais suar, não querem
mais os trabalhos vis, não querem percorrer longas distâncias, então fizeram as
alegorias em 3D móvel, 4D, 3D + tempo e ficou lindo mesmo, absolutamente
perfeito.
A enorme cobra (deram o nome de político da
época) de 30 metros levantava 1/3 do comprimento para dar o bote, os navios de
Cabral não afundavam no porto, os submarinos em escala vinham da água fictícia
andando com as partes por vezes explodidas didaticamente se reunindo bem à
vista das crianças, era lindo, mesmo, não afundavam.
Perfeito.
As composições mais extraordinárias foram
preparadas.
Dilmandona, eleita presidanta pela oitava
vez (depois da emenda constitucional de 18 podendo-se prorrogar os mandatos indefinidamente;
ela é de 47 do século passado, agora está fazendo 100 anos, cumpriu mandatos
até 2042 e aposentou forçada) foi homenageada e houve a cerimônia dos beija-pés
em que todos os reis e rainhas, todos os presidentes e presidantas do mundo
inteiro se ajoelharam perante ela, que está para ser canonizada Santa
Dilmandona, se antes não for feita rainha, pois, diz-se que, graça a Deus, a
vida dela será prolongada até os 230, logo que a curarem da doença que
impossibilitou sua abençoada presidência nesses cinco anos.
Perfeito.
A adorada centenária (100 anos) foi
cumprimentando um por um os milhares de espectadores presentes e os bilhões de
adeptos do mundo inteiro.
O chato do Pelé apareceu, está com 107,
apareceu só para dizer “o povo não sabe votar”, mas ninguém deu bola.
Um Congresso alegórico (ele é fictício)
apareceu voando baixo para ser apedrejado – jogaram tomates e ovos podres
virtuais nele, aquela melequeira. Vários Judas (no Brasil tem muitos) foram
devidamente malhados, embora não fosse Semana Santa, o povo quer apedrejar e
quando tem chance joga pedra mesmo. O INSS, com seu 2.081º rombo, também foi
motivo de chacota, os jornais eletrônicos divulgaram bastante.
Os hackers vêm interferindo há décadas no
espetáculo virtual, desde os primeiros mais fraquinhos aos perfeitos de hoje,
mas nada preocupante, nada que não tivesse sido sanado pelos hackers do
governo.
O que empanou um pouco o brilho da festa
foi que alguns espectadores (presenciais mesmo, ainda existe esse tipo de
gente) achando que as cobrinhas eram parte da cena foram brincar com elas,
tendo 16 ido parar no hospital. Fora isso, tudo bem. A
Terra toda participa dessa ilusão que o Brasil se torna.
Muito lindo.
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