Era uma sociedade muito superlativa,
hiperlativa, ultralativa.
Tudo era super, hiper, ultra. Até os
menores mercadinhos de bairros roscofinhos e superultrahiperdiminutos,
verdadeiros cocozinhos, tinham supermercado.
Era espantoso, mesmo.
Tudo era supermercado e hipermercado. Hiper
era mais que super, passava bastante. Enquanto super podia ter 200 metros
quadrados, hiper chega fácil a mil, talvez dois mil. Ultra era ainda mais,
tanto que ninguém vira ainda um ultramercado. Possivelmente ocuparia a área de
uma cidade inteira, com umas casinhas em volta. Acho que super era de bairro,
hiper de cidade e ultra de estado (ninguém falava ainda em algo que servisse à
nação inteira).
Talvez megamercado.
Era uma coletividade com problema de
identidade, de autoestima, tanto que usava tanto as línguas estrangeiras
(primeiro o francês, depois o inglês, sem falar por rápidas incursões no
espanhol pouco valorizado, no latim antigamente e no grego para formar prefixos
e sufixos) que se envergonhava da própria língua.
Eles se tinham mesmo em baixa conta, se você desse
um real para compra-los ainda receberia troco.
Aí passaram a usar os prefixos gregos e
latinos com os aumentativos e os superlativos, por exemplo, megamercadão ou
ultramercadão (em projeto para a nação, liderado pelo ultragrupo megapoderoso
hiperavançado). Ultramercadíssimo era mais para as vedetes.
Eles se sentiam pequenos, porisso queriam
tudo grande.
Superusinas, megaindústrias, hiperestradas
de 64 pistas de cada lado, era fogo pensar onde colocar tudo isso. Não
satisfeitos de ter dívidas pequenas, assumiram logo hiperdívidas interna e
externa ultrapesadíssimas.
Hipermeu Deusíssimo do Megacéu, onde iria
parar aquela gente do superpaís da presidanta? Difícil dizer. Os literatos
consultados pelos empresários e pelos governos inventavam palavras novas, cada
qual querendo ultra-passar, hiper-passar, mega-passar, super-passar o outro.
Vixe Maria! A competição estava acirrada. Aliás,
hipercompetição, supercompetição, ultracompetição, megacompetição – hiperíssima
ativa, ultríssima (nem se sabia o que isso significava, mas o importante era
competir).
A excitação era grande (só menor que a fase
áurea do uso do gerúndio ou quando se imaginava que o PT seria diferente).
Como disse Fernando Pessoa: “tudo é grande
quando a alma não é pequena”. E, correlativamente, se a
alma é pequena nada é grande. Como almas não crescem, isso é um problema.
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