Tudovaicomamão era chamado Faraó do Decerto,
porque se ele dissesse “decerto”, tudo bem, podia acreditar que era certo mesmo
como 2 e 2 são quatro. Se ele ficasse em silêncio, pairava a dúvida, ia pensar,
voltava e dizia sim, decerto, ou não, nesse caso você poderia desistir para
sempre, ninguém que você contratasse faria dar certo, não
dava mesmo, nem com reza brava.
O Faraó Tudovaicomamão partia do princípio
que há 25 quadros num filme em cada segundo, então em um minuto são 1.500
quadros; mas a mão era mais rápida que isso, frequência = f = 1/T, sendo T o
tempo – ora, neste caso a frequência da mão deveria ser maior que 1/25. Os mágicos
sabiam disso e o Faraó Tudovaicomamão sabia disso, tinha estudado física, tinha
estado na universidade. Não que você pensa que os melhores e mais tarimbados
ladrões não são formados? Pelo contrário, o ladrões de galinha é que são os sem
formação nenhuma.
Para começar o Faraó tinha estabelecido um
Fundo de Emergência, separava sistematicamente 25 % dos ganhos para defesa no
caso de cair em alguma arapuca e como nunca caia esse dinheiro, aplicado num
paraíso fiscal onde se encontrava tanta gente boa (Era o Paraíso, o que você
iria querer? Todos eram felizes lá, menos os que não iam) foi se tornando
montante enorme.
É que o Faraó trabalhava para gente grande
e fazia muito dinheiro. Era gente que não regateava, gente rica, riquíssima,
gente de bom gosto, ele roubava obras de arte e as substituía por cópias
“perfeitas” (quando descobriam não podia falar nada, pois isso mostraria falhas
de segurança – os museus estavam repletos de todo tipo de cópias há séculos).
Era gente que tinha bilhões e às quais quase nada mais interessava, salvo
aquilo que ninguém poderia ter, obras que eram conseguidas para uso exclusivo,
emparedadas, colocadas debaixo das casas, deixadas para os herdeiros apreciarem
– achava que era desperdício serem vistas por “gente do povo”. Que é isso,
minha gente, o povo ter acesso a coisas tão nobres? De modo nenhum.
Contratavam o Faraó. Quadros, peças de
cerâmica de milhares de anos, estátuas, livros preciosos, tudo mandavam copiar
para colocar o falso no lugar do verdadeiro: o povo ficava com o falso e eles
ficavam com o verdadeiro. O povo só tomava contato com falsas verdades, as
verdades verdadeiras só eles viam. Já que os governos trabalhavam para os
ricos, qual a novidade? Os ricos usavam cortinas de fumaça, mas de marcas boas,
eram lindas, muito bem elaboradas.
Na verdade o Faraó era uma espécie de
funcionário público dos ricos, só que não batia ponto, cumprindo rigorosamente
contra altos pagamentos as tarefas mais espinhosas. É evidente, era esperado, o
Faraó Tudovaicomamão ficava com uma parte para ele e quando ele morreu é que o
detetive Carter descobriu as coisas acumuladas. Mas aquilo era um infinitésimo
do que os ricos tinham pegado para eles.
A imprensa divulgou como se fosse um
acontecimento. O que sabe a imprensa? Não passa de outra funcionária do poder.
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