O governo decidiu cobrar um novo
imposto, já tinham passado de 80 e tantos, um a mais um a menos, que diferença
faria?
Os burocratas em Brasília estavam
inquietos, felizes, excitados.
Por quê não cobrar o “imposto do
existir”?
Não importa se é cobrado ICMS, IPVA, ITBI,
IPTU, IR e trocentas taxas para tudo e para nada, tudo está centrado no ser, no
ter, no estar – em resumo, no existir. Recuando ao máximo, o que há mesmo de
mais completo, tratando-se do ser humano?
Poderiam cobrar imposto sobre a
chamada bandeira elementar (ar, água, terra/solo, fogo/energia), mas fica
difícil mensurar: como medir a quantidade de ar haurido?
Agora, em termos totais, finais, o
que há mesmo é o existir: do nascer ao morrer a pessoa existe.
Ela é.
Não há jeito, eles disseram, é o
imposto central, o sonhado imposto único, IU que, todavia, é difícil
implementar. Por exemplo, como mensurar as atividades subterrâneas, aquelas que
se dão sem a circulação de moeda? Como, pior ainda, evitar que mais e mais
operações migrem para a informalidade monetária?
Quando ao IE (imposto do existir),
esse é inescapável.
Desde que a pessoa exista (não se
pode, por enquanto, cobrar imposto a fantasmas, mas só até operacionalizar,
pois existem esses 100 bilhões de seres humanos que, dizem, já existiram e
nunca foram gravados).
Então, sendo 7ilhões de seres
humanos, não tem como, em toda parte será cobrado, em toda latitude do Pólo
Norte ao Pólo Sul, nos 360º de longitude, em toda altitude. Sem enrolação, todo
bichinho de orelha vai pagar. Ademais, isso remete aos animais domésticos, que
também pagarão uma parcela.
BASTA colocar um microchip no núcleo
mesmo do existir, aquilo que não pode ser retirado, a não ser fazendo
não-existir o existente, o que implicaria em fuga à obrigação tributária, em
indução à sonegação, pelo que caberia multa; inclusive os suicidas seriam
punidos, tendo de pagar a TPS (taxa prévia de suicídio).
Com a vantagem do total mapeamento
de todos os seres humanos, estejam onde estiverem; inclusive se ficaria sabendo
quem esteve com quem, com total sigilo, é claro, exceto se os juízes
precisassem saber (e os governantes do Executivo e os políticos do Legislativo,
os procuradores do Ministério Público e um ou outro amigo ou, é de se pensar,
alguém que contribuísse para a prosperidade do sistema).
Caramba! Isso é muito bom.
Por quê não pensamos nisso antes?
E quanto a nós, também seríamos
vigiados.
NÃO, se houver um contramodulador
que embaralhe os sinais (a mesma coisa para todas as autoridades e os
amiguinhos, etc.)
E tudo é ainda melhor PORQUE as
famílias é que vão ter de pagar a implantação do chip e a máquina registradora,
que ficará em casa, emitindo ao final do mês o boleto de cobrança, sem ninguém precisar
ir aos Correios, enviar carta, nem nada. E se não pagar o cérebro será
desligado. Certamente o governo adotará uma política de financiamento da MR de
3,0 mil reais; além do quê os pobres, analisado caso a caso, serão dispensados
do pagamento, caso prestem algum serviço comunitário.
Os burocratas foram ficando animados.
TODOS OS ATOS DAS PESSOAS SERÃO
VIGIADOS, mais que pelo Grande Irmão, porque de fato aqui seriam todos.
Já estavam pensando no desenho da
máquina.
Bem, os militares não podem ficar
dentro, eles não querem. Os religiosos se insurgiram. E há o pessoal da polícia
secreta, ele julga inoportuno ser vigiado. Os policiais militares bateram o pé
e os bombeiros não querem ficar atrás. Há os ministros e os apaniguados do
poder...
E foram fazendo as contas,
reduzindo, reduzindo, até que no final ficou apenas o Zé. Para não passar por
ridículo, como tantas iniciativas do governo, deram um ajuda de custo ao Zé
para ele absorver bem essa nova iniciativa de educação tributária das massas e
ficou por isso mesmo.
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