- Não sei se é impressão minha, mas
o Tempo tá passado rápido demais, não é não?
- Não é só impressão sua, de modo
nenhum, tô sentido o mesmo.
- Quando começou a acelerar, você se
lembra?
- Não, faz alguns anos.
- As coisas tão ficando meio
emboladas.
- É verdade. Eu me sinto todo
amarrotado, não me sinto confortável nessas roupas, há um desconforto, uma
sensação de impropriedade. Lembra quando a gente era jovem e ele passava mais
devagar?
- Ô, como não? Quando eu era criança,
então, nem conhecia o Tempo, só ouvia falar, era tudo brincadeira, o Dia
demorava a passar. O Tempo já era velho naquele tempo, o Dia era filho dele,
vinha tomar conta da gente, pajear, tá lembrado?
- Tô. Eram vários Dias. Que saudades
daqueles Dias!
- E as Semanas? Também eram filhas
do Tempo, ficavam mais tempo, parecia que nunca iam embora, como a gente se
divertia com as Semanas... Era bom demais.
- E os Meses, esses eram maiores,
puxa! Lembra-se deles? Esses filhos do Tempo demoravam com a gente.
- Demoravam. E os Anos, então?
Ficavam muito, demoravam, para terminar um Ano era um custo.
- E a Década?
- Rapaz, a primeira Década que
chegou foi verdadeiro acontecimento, quando fiz 10 anos papai e mamãe deram uma
festa para eu recebe-la. Festão.
- Sou dois anos mais jovem que você,
mas me lembro de você na minha festa de 10, você já era maior, 12.
- Agora já estamos perto dos 60.
Fica esse desconforto de o Tempo estar passando depressa demais, as roupas não
tão ficando bem passadas, seria o caso de despedir ele?
- NÃO, tá doido, ninguém seria capaz
de despedir o Tempo, poucos conseguiram isso, segundo a gente ouve dizer, Jesus
e não sei se outro. Vamos tentar conversar com ele pra ver se ele passa mais
devagar.
- Não que você vai querer conhecer
um dos filhos mais velhos, o Século? Milênio, então, esse ninguém viu, talvez
só os vamps.
- Não, não, esse só Niemeyer e
poucos, Roberto, sei lá. Se a gente ficar com ele mais uns 20 Anos tá bom
demais.
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