Depois daquela vez em foi confrontado pelo assessor
e pelo general, passados seis meses o presidente começou a pensar que afinal de
contas os EUA eram o país mais importante do mundo, a única superpotência que
sobrara, dotada dos maiores a arsenais atômicos; que ele era
comandante-em-chefe das Forças Armadas disparadamente mais preparadas do
planeta, o FBI, a CIA e a NSA o obedeciam; o DoD (Department of Defense) tinha
verba de mais de 400 bilhões (mais que muitos países).
Foi pensando, tomou coragem.
Não vou deixar que me manipulem.
O presidente resolveu falar à Nação daquela
conhecida tribuna que aparece nos filmes, testou o microfone e foi direto ao
assunto.
- Senhoras e senhores, tenho fatos muito
graves a contar. Não aguento mais a pressão. Há forças ocultas coagindo-me com
objetivos inconfessáveis... (e falou por mais 10 minutos, contando tudo).
Ao cabo do desabafo a sala esta em absoluto
silêncio, embasbacada.
Ficou assim três minutos inteiros, ouvia-se
os corações baterem.
Depois, no meio do grupo de jornalistas um
sorriu levemente, mais adiante outro, uma jornalista começou a rir, outros a
gargalhar, todo mundo caiu na risada, a tensão se fora. A sala vibrava com os
risos, alguns passavam mal.
- Presidente, essa foi muito boa.
- A melhor, Senhor.
- O Senhor conta boas piadas, mas essa foi
de longe a melhor de todas. O Senhor deve ter passado meses elaborando, foi
fantástico, fiquei todo arrepiado, pensei que ia falar da Área 51.
- Puxa vida, nunca ri tanto na minha vida.
O Presidente ficou sem ação, retiraram-no
da sala, que voltou a gargalhar de gente rolar no chão.
- Gente, esse cara é bom.
Passados três meses a filha do presidente
se acidentou junto com o namorado, que depois de duas semanas em coma morreu;
ela escapou “por milagre”, parece que o airbag dela funcionou e o dele, não.
Mais 40 dias, mal ela tinha se recuperado do choque, o cachorro da família
morreu sufocado com a mesma comida de sempre, foi inexplicável. De noite nesse
mesmo dia o filho foi assaltado na universidade. Mais duas semanas e a esposa
perdeu coisas num shopping super-frequentado e apesar dos seguranças.
Nem seis meses mais e descobriu-se o
envolvimento do presidente, enquanto governador, com superfaturamento, embora
ele negasse tudo – vistos os papéis constatou-se que eram verdadeiros até o
detalhe. Isso se espalhou muito, porque ele se elegera com base numa
administração purificada dos erros e dos excessos. Nem bem transcorreram outras
três semanas e uma tia-avó morrera ao escorregar no banheiro.
E assim foi pelo ano inteiro após o
pronunciamento.
Um ano e meio a seguir à posse um
abatidíssimo presidente aparecera na mesma sala, com muitos cabelos brancos,
que ele nem tentara disfarçar. Rugas profundas cobriam seu rosto macilento.
Como era seu estilo, mais uma vez ele foi
direto ao assunto.
- Meus concidadãos, um ano atrás fiz uma
brincadeira com vocês e embora vocês tenham rido bastante, pelo que fiquei
feliz, após esse ano de sofrimentos, analisando e ponderando bem a situação
compreendi que Deus me puniu pela falta de seriedade; que um presidente não
pode nem de brincadeira dar a entender coisas assim. Chefio um país inteiro,
300 milhões de habitantes que precisam da minha direção firme e correta e não
me permitirei mais esses escorregões.
Saiu sob aplausos.
Fosse pelo que fosse daí para frente tudo
correu bem na vida dele e no fim do mandato foi reeleito para outros quatro
anos, pois se descobriu que os papéis que o comprometiam tinha sido
falsificados com perfeição por um desafeto, agora preso.
Remoçou, pintou o cabelo e foi
silenciosamente feliz como colaborador.
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