A Pó-lícia era a polícia encarregada dos
entorpecentes, tudo aquilo que entorpecia, porém não a deixaram operar no plano
da mídia.
Ela também não fazia questão de pegar os
pó-bres nem os pó-bres-coitados, porque estes consumiam pouco, não tinham
dinheiro para comprar. Quem tinha dinheiro é quem podia gastar a verdadeira
fortuna mensal. Pobres e pobres-coitados iam ter? Mal conseguiam se alimentar!
Podiam, isso sim, consumir maconha e quando davam.
A Pó-lícia começou a pensar: por quê os que
consumiam eram liberados? Seria como liberar os usuários de armas, inclusive as
privativas das forças-armadas para só pegar os fabricantes e vendedores, no
caso os traficantes. Cada vez que o usuário consumia ele mandava um recado,
realimentando os traficantes pó-dutores e im-pó-rtadores. Os pó-mitentes
compradores estimulavam os outros, porque se não há comprador como pode haver
vendedor? Se não há comprador de sofás quem se habilitará a fazê-los? Seria
perda de dinheiro. Liberar os consumidores seria como dizer aos outros para
lhes ofertarem. Se não iam liberar, então que fizessem o serviço certo.
Aliás, os traficantes tinham armas de todo
tipo, inclusive as já mencionadas armas privativas: como as obtinham? Ninguém
vai a uma loja e encomenda arma de alto poder de fogo, que só as forças armadas
devem possuir (se devem). Quem trazia para eles? Podiam vir através das
fronteiras ou podiam vir com gente imune a vigilância nos aeroportos e portos,
quer dizer, diplomatas. Ou elementos traidores das FA, que por sinal vigiavam
atentamente. Se os traficantes montavam verdadeiros exércitos é porque de um
lado tinham mercado e do outro quem os abastecesse de armas letais.
Era esquisito.
Para começar, era esquisito uma sociedade -
que se dizia ordeira e pacífica - permitir a existência em mãos de civis ou até
de policiais (quanto mais de bandidos!) de armas de quaisquer tipos. Se não
quero que pessoas atirem com canhões vou começar por proibir fabricação de
canhões, de balas para eles, de veículos especiais transportes deles. De fato,
não vemos pessoas vendendo canhões a civis, de forma que isso é realmente
proibido; se é proibido para canhões, porque não para os revólveres, os canhões
de mão?
Isso ultrapassava o entendimento da
Pó-lícia.
Estando os pó-bretões e a pó-breza em geral
excluída, era preciso mirar os que tinham dinheiro, inclusive gente das artes.
Havia os filhos pó-digos que renunciavam às famílias para vivenciar esse
estranho mundo, mas esses não eram tantos assim. Havia o pó-der e os pó-líticos
(que tinham coração de pedra, até de crack), era preciso prestar atenção neles.
Onde - como em Cingapura - de fato não querem, não aparece, mas nas sociedades
frouxas é comum. Ninguém está pregando a volta da dita-dura, só que se é para
fazer que façam certo, pensava a Pó-lícia.
O pó-blema era que a pó-babilidade era
maior em certos setores que em outros, mas nesses não se podia tocar, tremenda
hi-pó-crisia.
A sociedade estava enfrentando uma pó-cela.
Os pó-cessadores eram muitos, os pó-cessos
eram poucos.
Falava-se uma coisa, fazia-se outra.
Que vergonha!
Que hi-pó-critas nós éramos!
Incapazes de lidar com nossas falsidades.
Também, muitos pó-liciais estavam de braços
e pés amarrados, no caso dos braços o braço esquerdo para quem é destro.
Que vergonha eu
sentia, cada um que caía doía no coração. Matogrosso quis gritar, mas em cima
eu falei, os homens estão com razão, nós arranjamos outro lugar.
A questão era esta: ir para onde?
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