Thursday, June 13, 2013

Curupirado (da série Conto Tudo Novo)


O curupira é anão de cabelos vermelhos e pés ao contrário, vem do folclore brasileiro, onde é o defensor das matas.
Monta um tapir, uma anta.
Vai que vai, os ecologistas entenderam de adotá-lo como símbolo da causa geral, mundial, estampando-o nas camisas, vendendo-as, editando livros, colocando o nome em muitas ONGs (organizações não-governamentais), pois começaram admirar a figura: sendo um agente do amor e da proteção de todas as criaturas (fungos, plantas, animais, primatas – e inclusive dos seres humanos, na medida em que protege o ambiente para as gerações futuras), o Curupira tem como única defesa o andar para frente parecendo andar para trás: ao sair de seu esconderijo parece estar entrando nele.
Induz engano nos predadores, nos seres humanos malvados.
Como acontece na dialética ocidental e no TAO oriental, o sim gera o não dentro do ritmo próprio e inescapável.
Assim, de tanto sobrecarregarem no símbolo, os ecologistas, superafirmando a proteção ecológica tornaram-se ecólatras, adoradores da ecologia, da rede da vida, tornando-a absolutamente inviolável, protegendo mais o nível biológico-p.1, a primeira natureza, que o nível psicológico-p.2, a segunda natureza.
Com o tempo, com a piração dos ecopirados o Curupira pirou também, ficou sendo o Curupirado, instalou-se uma ecoditadura muito dura, mais dura que pau-ferro, uma ecotirania das mais vergonhosas, que se esquecera da paz e da prudência do símbolo e do propósito, de salvar a primeira natureza através da segunda para que a segunda pudesse observar e aprender com a primeira.
Desse jeito, enrijeceu, o Curupirado tornara-se um tirano insuportável, arbitrário, zelador do armazém intocável da Natureza Um.
Virou um monstro.
Metia-se em tudo, doutrinava tudo, queria saber de tudo, queria impedir tudo – e de pacífico se tornou feroz, de bondoso se fez demoníaco. O orgulho o acometeu, até irritar tanto a Tupã que este o derrubou com um raio, substituindo-o pelo Curupira 2.0.

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