Thursday, June 13, 2013

Conde Trácula (da série Conto Tudo Novo)

                         
                       O Conde Trácula ficava uma fera (brincadeirinha, não me morda) quando se apresentava e erravam o nome dele. Neste particular, é o seguinte, é como apelido, se você reclamar aí é que “cola” mesmo, firma-se e não tem jeito. Você tem de levar na flauta, fingir que não se importa ou não se importar mesmo, até cair em desuso. Ou não.
- Muito prazer, conde Trácula.
- Drácula?
- Não, Trácula.
- Báculo?
- Não, TRÁCULA. Com T.
- Tácula?
- Trácula, Trácula, Trácula.
As pessoas faziam de propósito.
Porque sabiam que ele “era do bem”, diferentemente do seu parente, seu primo-irmão, o conde Drácula original, que com esse ninguém implicaria.
- Prazer, conde Trácula.
- Mácula?
- TRÁCULA, PORRA (tinha hora que ele perdia as estribeiras).
Ele ficava pra morrer, mas não morria porque era vampiro e vampiros foram condenados e tirar do mundo a gente ruim que o empestava. Infelizmente havia gente ruim demais e eles não davam conta. No Brasil, então...
Ele ficava uma arara, cuspindo fogo pelas ventas, era doloroso de ver. E quando mais se aborrecia mais as pessoas implicavam, porque sabiam que ele não podia revidar. Não que tivesse medo das pessoas, isso não, era mais por convicção, ele tinha se decidido a não tomar “sangue vivo”, quer dizer, sangue que ainda estivesse no corpo das pessoas. Porisso assaltava os bancos de sangue ou bebia de gente recém-morta. Ou pegava Tampax e Modess nas latas de lixo, era triste de ver o esforço que ele fazia para ser correto num país que não dava a mínima bola para isso.
E o traquejo social do conde?
Era zero. Eu falei pra ele: conde, leia a passagem de Rui Barbosa. O senhor estava lá, viveu na época do cabeção de Haia, o senhor tem de ler. Não acredite nas pessoas.
Quê?!
Zero, ele tinha essa tendência de acreditar nas pessoas, acreditava que as pessoas não estavam mesmo entendendo o nome dele. O sangue lhe subia à cabeça. Aliás, era por isso que ele tinha de beber sangue (como os vampiros brasileiros em geral) do povo, mas só nas condições já descritas, nada de gente viva, pois não fabricava, não fazia nada, como as elites. Estava condenado a viver de sangue, suor e lágrimas do povo, como os políticos.

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