João e Maria se perderam na Selva de Pedra e foram
parar na Supermercasa da Bruxa, que era cega, por vezes esbarrava nas pessoas e
catbum, já era, já foi, já passou, deixou de ser.
Certo, ela lhes dava para engordar os quatro (que às
vezes são três e às vezes são cinco, dentro dos princípios da ciência) tipos
básicos de alimentos (carboidratos, frutas, vegetais e legumes, laticínios e
proteínas), mas tudo sortido e torcido. Por exemplo, se o produto era apresentado
“sem adição de açúcar” não quer dizer que não tivesse açúcar, só não foi
adicionado, podia ter o que já estava na fruta. Se fosse light/luz não seria
necessariamente dietético/diet – este era de privação de açúcar, mas poderia
ter amido, que se transforma rapidamente no açúcar e eleva as taxas de glicose.
Uns provocavam ácido úrico (todo tipo de proteína em excesso: ovos, carnes,
leite e derivados, peixes, feijão, um mundo de ofertas tentadoras), outros
felizmente aumentavam a pressão e o stress. Café e chás podiam ser tomados com
adoçantes, que eram cancerígenos brabérrimos. E existiam os condimentos que
atacavam o organismo. Ou as carnes com aditivos que contaminavam seu fígado.
João e Maria estavam sendo engordados pela Bruxa
para o banquete, quando ela convidava a Morte para cear.
Se deixavam de consumir açúcar industrializado e
pegavam açúcar mascavo, este era tão venenoso quanto o outro. Tudo tinha muito
sal para fazer mal ao coração, muito açúcar para adoçar a glicose, muita
gordura para entupir as veias, muitos condimentos, muito amido e tudo para
fazer as alegrias hospitalares e aumentar as contas de pessoas e governos.
A Bruxa ria. Tinha um acordo silencioso com o
Hospita-Lar e a Fármaco Peia. Com a boca diziam “não coma, siga as regrinhas da
pirâmide alimentar” e com a outra ofertavam as gulo-senhas. Receitas
esplêndidas na televisão e na mídia toda, revistas ensinando a engordar.
João e Maria mostravam os dedinhos cada vez mais
gordos.
A Bruxa ria e lambia os dentes.
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