Depois de instalar câmeras de
vigilância nos postes e no alto dos prédios, nos ônibus, nas praças, nas
repartições, nos aeroportos (e ferroviárias e rodoviárias e estações de
embarque nos ferryboats e astroportos de Cabo Canaveral/Kennedy, Baikonur,
Alcântara e outros), nas ruas, nos portos, nos elevadores, nas televisões e
mídia em geral, em toda parte mesmo, algum desocupado (os que trabalham nas
universidades são 10 %, diz um amigo; se tomarmos esse índice, 600 mil dos seis
milhões de funcionários carregam os demais em termos de trabalho de qualidade,
não-enganador) imaginou algo genial (ele mesmo modestamente chamou assim,
ganhando o aplauso dos companheiros e companheiras do TP, esperançosos na
recíproca): E SE, apenas SE colocássemos câmeras dentro de casa?
- Mas isso é proibido pela
constituição!
- Pela constituição? Quando ela foi
lançada em 88 nem existiam ainda câmeras.
- Claro que existiam!
- Existiam?
- Sim, é lógico, você é uma besta.
- “Besta é tu, besta é tu, por que
não dizer?”
- Cara, o cinema tem mais de 150
anos.
- Tanto assim?
- Tem.
- Puxa, é bem primitivo, né?
- Bem, voltando ao assunto, na
realidade (puxando a constituição na Internet 6.0), veja aqui, a residência é
inviolável.
- Não se trata de violar, é mais um
auxílio.
- Como você poderia convencer as
pessoas que espioná-las é prestar ajuda?
- Bem, elas não se convenceram nas
ruas e em todo lugar? E o direito à imagem, não foi ferido? No entanto, elas se
deixam filmar à esquerda e à direita PORQUE dissemos a elas que estamos
filmando os bandidos e, lógico, elas não se sentem bandidas, acham que bandidos
são os outros. O velho princípio de que ninguém é racista, mas sempre conhece
um que é.
- Nisso cê tem razão.
- Claro que tenho. A tendência, pela
Curva do Sino, é de 50 % aceitar logo de cara. E os outros 50 % a gente pode
colocar nas lâmpadas: quem vai desconfiar de lâmpada?
- E os fabricantes de lâmpada, cê
acha que eles vão aceitar participar?
- Lógico que vão, principalmente se
for oferecido incentivo fiscal.
- E se os juízes descobrirem?
- Colocamos um mecanismo de
autodestruição, se tentarem abrir.
- E vamos vigiar os juízes também?
Todo mundo ficou sem graça.
Os homens que tinham barba coçaram a
barba, os que não tinham, também. As mulheres passaram batom ou rímel, outras
foram ao banheiro. Foi um constrangimento geral.
Vários minutos de silêncio.
Até que alguém tomou coragem.
- É, né?
- E os militares? Você vai querer
ver sua casa invadida de madrugada?
- Podemos evitar os quartéis.
- E as casas deles?
Ficaram sem jeito novamente.
- E os banheiros das pessoas, as
pessoas peladas, as pessoas transando? E nós, principalmente nós?
- Evitamos comprar aquelas marcas,
colocamos lâmpadas comuns, nostalgia, sei lá, cada um inventa a sua.
Mais silêncio.
Implantaram sistemas redundantes
para não dar pau, para não falhar. Agora eram 50 milhões de residências
telepatrulhadas, monitoradas por supercomputadores que vigiavam as pessoas
através de 200 milhões de lugares em residências, em repartições, em estradas, em
todo lugar mesmo, fazendo favor ao SUPERIPER GRANDIRMÃO.
Passaram-se anos, veio a reunião de
avaliação.
Aquele mesmo cara tinha pensado
outro avanço.
- Manos, e se a gente colocasse uma
câmera no olho da pessoa? A vigiaria B e B vigiaria A, assim cobriríamos de
fato todo o espaço onde houvesse um ser humano e por segurança com os dois
olhos, podemos instituir uma consulta obrigatória para ver fundo de olho.
- É mesmo! (disseram os
entusiasmados).
- Mas serão só os humanos?
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