Saturday, December 14, 2013

A Bandeira das Menininhas (da série Material Sensível, grupo MCES Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens)


A Bandeira das Menininhas


                               Como já vimos no Modelo da Caverna para a Expansão dos Sapiens (MCES), as mulheres coletoras controlavam de 80 a 90 % da Caverna geral e tudo girava em torno dos garotos, que aos 13 anos davam o assustador salto desde cima (desde a superproteção da mãe dominante e seu grupo de aduladoras, com as mães num segundo círculo) para baixo até o círculo dos homens caçadores onde eram recebidos com total indiferença e completo desprezo pelos guerreiros, começando do degrau mais baixo, ou seja, abaixo de zero, no zero ficando os últimos homens.

                               Já as meninas eram enxotadas e enxovalhadas, ficando abaixo dos cachorros, porque de pronto eram competidoras dos vasos oficiais de depósito, quer dizer, as mães, com a enorme vantagem de serem belas e não terem inaugurado sua vida sexual (isso passou através dos milênios e foi superestimado como virgindade até recentemente). Eram mesmo expulsas e maltratadas, fazendo os piores serviços, piores mesmo que os das inférteis, que pelo menos podiam fazer sexo com os garotos na iniciação destes.

                               Ora, o modelo diz pela soma zero dos pares polares oposto-complementares que se os garotos davam esse salto extraordinário, não conhecido das menininhas, por outro lado as meninas davam um outro salto também fantástico, porque tinham de usar os mais delirantes artifícios para roubar os homens válidos e fazer sexo que as catapultasse à condição de mulheres (as que tinham sido autorizadas a fazer sexo) e, principalmente, mães (as mulheres que tinham sido autorizadas a ter filhos, pois tudo era muito controlado – as cavernas ocupáveis eram poucas e ciumentamente possuídas).

Então, o que elas fariam?

                               Mentiriam.

Mentiriam muito, por palavras e atos, por gestos, por meneios, de todo modo possível e imaginável, tanto para se protegerem quanto para conseguirem o supremo bem, o homem, o fecundador, o depositante. Creio que quando os pesquisadores começarem a realizar as buscas de campo desnudarão milhões de artifícios praticados pelas menininhas no sentido de “conseguir seu homem” e passar à condição de mulher e mãe.

                               E a dialética diz que alguém, tão desfavorecido assim, tem muitos motivos para crescer, quer dizer, para constituir família a quase qualquer custo e amealhar futuro, tornar-se mãe. Acredito agora que grande parte da produção humana visa satisfazer as angústias das menininhas em sua duríssima condição antiga. Isso não morreu, continua no inconsciente coletivo.

                               Vitória, quinta-feira, 07 de abril de 2005.

                  

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