Um
Modelo para os Morros
Escrevi e entreguei ou
protocolei alguns artigos e textos a e para Luis Paulo Veloso Lucas, atual
prefeito de Vitória, um deles falando dessa renov/ação, o ato permanente de
re-novar os morros. No Brasil os morros são lugares de invasão, aonde pobres e
miseráveis iam e vão morar. Mais recentemente têm aparecido casas boas,
sobrados, prédios até. A coisa vem mudando lentamente e a dialética diz que no
oposto do ciclo serão os ricos e os médios-altos que morarão lá.
Enquanto esse tempo não
chega, é preciso olhar os atuais moradores com desvelo, com o máximo de
atenção.
Pouco imaginativas que
são, as pessoas em geral só olham para o futuro como se esse fosse uma
repetição do passado, e daí não dão valor tão grande a ele. Se fôssemos
trabalhar pelo ano de 1852 daríamos tanto de nós? A humanidade era pobre, como
um todo, em relação a 2002. Por outro lado, se víssemos o futuro de 150 anos
depois de agoraqui, certamente colocaríamos grande empenho na coisa, dando
incomparavelmente mais de nós.
A mediocridade reina e
impera, de modo que as pessoas quase todas não projetam que daqui a 150 anos,
em 2152, o mundo estará não só muito mudado, o que é aceito, como muito maior.
Devemos trabalhar para transformar este mundo simples e pobre de agora no mundo
complexo e rico de depois.
E isso se fará com
grandes projetos, com estupendas construções de toda espécie, com arrojo e
determinação, com audácia para aceitar as novas idéias, com dignidade para
aceitar a liberdade e o crescimento e desenvolvimento (sustentável) dos outros,
com mudanças de rumo, com alterações comportamentais, com novas visões de
mundo.
Não adianta manter o
Brasil dividido em dois, um dos que têm quase tudo, e outro dos despossuídos,
que não tem quase nada.
É do maior interesse de
todos a abertura rumo à igualdade geral e de oportunidades assimétricas, dando
mais a quem menos tem, seja riqueza, seja capacidade de fazer – o que também
não pode decair para doações sem retorno, ou seja, esmolas, que viciam o
cidadão, como dizia Gonzagão.
Neste sentido um projeto
para os morros pode ser visto como algo de verdadeiramente gigantesco, com a
participação dos tecnartistas todos, em especial dos arquiengenheiros e dos
urbanistas, e de todos os ramos do Conhecimento. Algo para um horizonte
curtíssimo de cinco, curto de 10, médio de 20, largo de 40 e larguíssimo de 80
anos.
Algo para mudar mesmo o
Brasil, a começar do ES.
Será que ninguém vai ter
grandeza de começar isso?
Por coincidência ou não,
o citado prefeito construiu várias casas grandes em alguns morros (mas não
assumiu as sugestões).
Vitória, quarta-feira,
15 de maio de 2002.
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