Sunday, December 01, 2013

Rio Muito (da série Cometários)

Rio Muito

 

Há um livro extraordinário [Uma Breve História do Mundo, São Paulo, Fundamento, 2004 (sobre original do mesmo ano), de Geoffrey Blainey, cujo capítulo 2 é Quando os Mares Começaram a Subir, dando conta de terem os mares se elevado 140 metros, ao passo que já li noutro lugar 160 m (20 m constituem uma diferença notável], que faz na página 16 esta afirmação trivial (porém ela dispara grandes coisas): “Certos mares de hoje e muitos dos grandes golfos não existiam, ou seus formatos eram bem diferentes”.

Trabalhei essa questão de mudança das linhas de costa nos lobatos, panelões, lagoões, “todo petróleo e todo gás”, formação das lentes de diamantes e em várias séries [tudo posto no livro-DVD Material Sensível].

De fato, é fascinante.

E há a questão dos rios, que por si só já são coisas deslumbrantes, completamente absorventes, pois eles mudaram em LAL (longitude, altitude e latitude) todo tempo.

POR SI SÓ, eles mereceriam todo um sítio/site na Internet com constantes atualizações.

Eles alteiam para cima e para baixo, alargam e estreitam, mudam o deságüe de um oceano ou mar para outro, secam e voltam a nascer, aprofundam ou ficam rasos, rabeiam para esquerda e a direita – são extraordinários.

As flechas (cometas e meteoritos) os atacam, os mares sobem e baixam e definem outras linhas de costa, os vulcões e os supervulcões interferem com eles, os humanos os ameaçamos desde alguns séculos, entram e saem do solo, formam lagoas, formam imensos depósitos subterrâneos chamados aqüíferos e assim por diante muito adiante.

São, enquanto conjunto, uma das coisas encantadoras da Terra.

E cada um é um caso à parte em muito mais do que um sentido.

Por quê nós, dependendo tanto deles todos e cada um, não os estudamos mais e melhor?

Deveríamos ver seus perfis descendo de onde vem até o mar e a foz, os municípios que banham e as cidades que servem, as propriedades que abastecem e irrigam, onde são navegáveis, onde são piscosos, quais lagoas formam ou de onde saem, os portos, comprimentos, larguras, fotos, filmes, desenhos, pinturas e fotografias, poemas e prosa, tudo mesmo.

O título vem de eu achar que somos ignorantes: rio muito de nós mesmos e acho que os rios deveriam receber muito maior atenção, inclusive proteção interessadíssima das matas ciliares, quer dizer, dos cílios das margens dos rios.

Haveria de recuperá-los, desassoreá-los (tirar a areia deles: isso é tão recente que é até difícil escrever a palavra, não constante do dicionário), re-navegá-los (idem: torná-los navegáveis de novo), haveria que investir pesadamente em despoluição.

Veja só o que é Deus-Natureza dar uma herança tão grande a filhos que nem sabem gozar dela!

Serra, sábado, 18 de setembro de 2010.

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