Sunday, December 01, 2013

Prisioneiros que Somos (da série Cometários)


Prisioneiros que Somos

 

Há aquela banheira ou ofurô com sais e pétalas de rosas, água tépida pela qual sonham tantos. Tem aquele prato preparado por chef francês da Nova Cozinha, o que faz babar muitos outros. Uns querem visitar alguns daqueles 1.000 lugares antes de morrer e outros passear num cruzeiro ou ir a Caldas Novas em Minas Gerais usufruir das termas.

Há sonhos para todos.

E por eles as pessoas gastam 35 ou 40 ou 45 anos de suas vidas.

Há sonhos menores, dos pobres e miseráveis, de ter tal ou qual celular ou tablet ou computador de última geração, GPS ou notebook, netbook, videojogo. Há os mais avançados da classe média que pensam no supercomputador caseiro. A classe média sonha com uma Mercedes Classe A, os ricos com Ferrari.

A sócioeconomia terrestre proporcionou milhões, bilhões de objetos que são trocados pelo desconforto de todos nós prisioneiros em ônibus em quatro viagens diárias ou em automóveis postos em garrafas pelos gênios do trânsito.

Particularmente, sou prisioneiro das ideias.

Seguramente sou prisioneiro de compromissos.

Como não tenho orgulho, nem sou modesto, não quero fama nem poder, como o dinheiro não me seduz (exceto como meio de cumprir os compromissos), sou cativo da minha imaginação muito ativa.

Olho e vejo os sonhos e pesadelos do ter em livros, filmes, nas manifestações que ouço de toda essa desastrada existência humana. Lá vamos, metade dos 7,0 bilhões (sendo os outros crianças ou velhos), cumprir essa carga de trabalho, balizados pelo tabu do suicídio de um lado e pelas ofertas e superofertas do outro.

São tantas!

Drogas, bebidas, cinema, esculturas, comidas, jóias, decoração, pastas, bicicletas de mil tipos diferentes, motos de inumeráveis modelos, temperos, um sem-fim de possibilidades de “satisfazer o corpo” (na realidade é a mente). Vícios mentais indescritíveis, de ler como eu, de tomar café, de sentir-se perto dos poderosos, de ser alguém com poder, de ter roupas tais ou quais – e com isso bilhões de horas-homem são a cada semana desperdiçadas, indo muito além da simples sobrevivência.

Que tolos somos!

Um universo dado, uma vida entregue e vivemos desses excessos, dessas demências!

Serra, terça-feira, 23 de agosto de 2011.

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